Como é empreender fora do eixo?

Esses últimos anos tem sido muito interessantes para o meu maior entendimento do quão diverso o cenário de empreendedorismo é no Brasil. Tive a oportunidade de acompanhar empreendedores em estados como: Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Maranhão, Paraíba, Tocantins, Manaus, Pará, enfim, boa parte do Brasil. E o melhor, nesses locais tive contato com empreendedores não só da capital, mas também do interior de cada um desses estados.

Criar e gerir um negócio não é fácil. E não fica mais fácil se você tentar fazer isso fora dos grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo. De forma geral, todos os elementos necessários para ajudar no desenvolvimento de um negócio são mais escassos ao se empreender fora do eixo. O mercado local é restrito, faltam profissionais qualificados, os investidores raramente aparecem e as oportunidades de capacitação, aceleração ou qualquer outro formato de ajuda nem sempre estão presentes.

No entanto, invariavelmente tenho visto uma predominância de negócios surgindo nesses ecossistemas com o mesmo modelo de negócio de tantos outros que surgem nos grandes centros. Ora, se você está criando um aplicativo de entregas, onde você acha que ele vai ter mais chance de sucesso? Dentro de São Paulo onde ninguém consegue se movimentar e onde está a maior parte das grandes empresas e do dinheiro ou em São Luiz?

Não que não exista espaço para esse tipo de negócio. Escrevi um outro post exatamente sobre as oportunidades de se “prever o futuro”, o Viagem do tempo existe, ao menos no mundo dos negócios. No post falo sobre a estratégia de copycat, onde você copia um modelo de negócios de sucesso e traz ele para o seu contexto, o seu mercado, o seu estado.

Mas será que essa é a única estratégia para aqueles que querem empreender fora do eixo?

Acredito que não. Todo negócio inovador deveria começar localmente mas pensar na sua maneira de crescer globalmente. 

Como driblar as desvantagens de se empreender fora do eixo?

Vejo duas estratégias que tem dado muito certo:

1- Criar negócios 100% digitais

Negócios 100% digitais podem surgir em qualquer lugar e atender qualquer lugar do mundo. Mas é preciso lembrar que você vai competir com o mundo inteiro também, portanto se preocupe em criar um negócio com diferenciais a nível global. Não adianta nessa estratégia, criar o mesmo software de gestão imaginando que você vai ganhar mercado porque o seu é 20% mais barato.

Um exemplo bacana de uma empresa que eu conheci em Cuiabá é a Estuda.com

Dois empreendedores locais, completamente fora do radar de investidores, com todas as restrições do mercado local, desenvolveram uma plataforma de metrificação do ensino para auxiliar escolas e pais, entendendo, acompanhando e direcionando o desenvolvimento dos alunos.

Hoje o modelo deles realmente não é mais 100% digital já que as vendas para as escolas têm que ser feitas presencialmente, mas eles cresceram com o processo de vendas online para os pais e alunos, onde as restrições do mercado de Cuiabá não eram uma barreira.

2- Aproveitar os diferenciais do seu ecossistema

Outro ponto que ajuda muito é entender o que o seu entorno tem de forças e focar o seu negócio nisso. Se o agronegócio é a principal atividade no seu estado, use isso. Se é o ecoturismo, aproveite esse ponto. Se é a mineração, a piscicultura, a produção de carros, enfim. Olhe o que você tem de melhor e aproveite. E mais, tenha consciência que o resto do mundo pode não ter as riquezas naturais que o seu ambiente possui e exatamente por isso valorizar tanto.

Um exemplo disso é a Endserv, uma empresa que aceleramos no Espírito Santo, especializada em selagem de dutos de perfuração de petróleo. Em um estado que tem boa parte da economia dependente dessa indústria, nada mais natural do que isso.

Eu sei que às vezes pode parecer óbvio, mas cansei de ver nesses estados empreendedores tentando trabalhar com mineração onde não tem mercado para isso, com agronegócio em estados onde esse setor não é tão forte e principalmente, em soluções para o meio urbano em cidades onde os problemas que geraram startups como Uber, Rappi, GetNinjas, etc não são relevantes ainda. Alguns tipos de negócio precisam de uma densidade demográfica para se sustentarem. E é exatamente por isso que eles são atacados em um segundo momento pelos líderes de mercado.

Empreender fora do eixo é um desafio, mas tem ótimas vantagens também. Em geral, a estrutura necessária para ter a empresa (espaços, pessoas, etc) é muito menor, os concorrentes muitas vezes demoram a te notar e por fim, para aqueles que exploram as vantagens do mercado local, a concorrência acaba sendo bem menor.

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Por |2022-11-11T09:42:23-03:0011/07/2019|empreendedorismo|

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Atuo no mundo da inovação desde 2008. Já atuei em incubadora, consultoria e aceleradora, acelerando mais de 900 startups. Sou formado em Ciências Biológicas e Especialista em Gestão, e por isso gosto de misturar mundos diferentes para trazer mais inovação para o meu dia-a-dia. Coordeno os programas da Troposlab e crio novas metodologias de aceleração, atuando diretamente com mais de 50 grandes empresas. Além disso, tenho um lado nerd (ficção científica, heróis, histórias de aventura, etc).
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