Porque os empreendedores (e não os governos) vão mudar drasticamente a forma com que lidamos com a saúde

  • A tecnologia, os empreendedores e o futuro da saúde no Brasil

Quem me acompanha, sabe que eu sou um grande defensor do empreendedorismo como o principal motor de mudanças no mundo. Para mim são os empreendedores que procuram ativamente problemas na sociedade e se empenham em desenvolvimento de soluções e negócios que resolvem esses problemas. Já, inclusive, escrevi sobre isso no post “Como as novas tecnologias (e não os políticos) estão mudando o mundo”

Queria dar um zoom e falar sobre o futuro da saúde, trazendo um exemplo de como a mudança nesse setor já começou a acontecer.

Vamos iniciar o tema pensando como nós nos relacionamos com a saúde hoje. Em geral, a maioria das pessoas possui duas formas básicas de relação. De forma preventiva, procurando médicos e realizando exames de check up para saber se está tudo bem; ou de forma reativa, procurando médicos para tratar de problemas que aconteceram. Vamos falar separadamente sobre cada um desses formatos:

  • Medicina preventiva

Em geral, nós escolhemos algumas especialidades que valorizamos mais e marcamos consultas anuais, semestrais, etc, para nos consultar com os médicos que nos acompanham na vida. Alguns fazem acompanhamentos periódicos de problemas comuns na sua família (cardiologistas por exemplo), outros possuem uma rotina de profissionais mais presentes como oftamologistas, dermatologistas, dentistas, etc, ou ainda fazem acompanhamento de recuperação de algum problema maior, por exemplo, ortopedistas, para quem realizou uma cirurgia.

Independente do caso, o processo com esses médicos é sempre bem parecido. Você liga para o consultório, ou usa algum meio digital de marcação, faz a consulta (muitas vezes rápida) e, se necessário, faz os exames para uma posterior análise. Aquele médico tem o seu histórico, mas muitas vezes está desatualizado, em especial com consultas com outros médicos que você fez entre uma ocasião e outra. Ou por acaso você comenta com o seu cardiologista que fez um tratamento de canal 5 meses atrás, ou com o seu ginecologista que teve dengue no mês passado?

E além disso, como toda a gestão de idas ao médico é trabalhosa e fica 100% por conta do paciente, o que acontece é o inevitável afastamento das pessoas dos consultórios durante a vida adulta. Por esquecimento, por descaso, por falta de tempo…

Quais médicos você visita periodicamente?

  • Medicina reativa

Nesse caso, a gravidade do problema nos faz agir de maneiras diferentes, quando temos um problema mais leve, nossa tendência é procurar no google, ir conversar com o farmacêutico e, muitas vezes, apenas com o vendedor, ou mesmo nos automedicarmos.

Caso o problema persista ou seja mais grave, aí sim procuramos uma instituição de saúde (consultório, hospital, etc), onde precisamos responder várias perguntas na anamnese dos médicos. O que nos leva a um diagnóstico e prescrição de tratamento ou ao pedido de mais exames. O processo de atendimento nesses locais nunca é bom. Primeiro porque só vamos em hospitais quando estamos doentes; segundo, que o grau de priorização de atendimento necessário em um hospital faz com que, caso o nosso caso não seja urgente, fiquemos horas esperando atendimento, para depois de alguns minutos de conversa com o médico sairmos com um diagnóstico de virose ou um pedido de exame. Horas de espera para minutos de atendimento.

E pior, dependendo do profissional que te atende, o diagnóstico muitas vezes é errado. Meu pai já foi diagnosticado com labirintite quando estava tendo um sangramento no intestino (o que lhe deu tonturas).

Resultado: seja na medicina preventiva, seja na medicina reativa, a interação das pessoas é ruim, pouco eficiente e pouco integrada. Fazendo com que, no final, nossa saúde seja pior, e todo o processo seja mais caro, para a própria pessoa, para os planos de saúde e/ou para o poder público que arca com os custos de toda a infraestrutura.

Tudo bem, Pedro, até aqui nenhuma novidade. Afinal, você vai me falar sobre o futuro da saúde e sobre como teremos startups para solucionar esses problemas? 

Não, vou falar como hoje já existem startups solucionando esses problemas. É só uma questão dessas soluções chegarem até nós.

Essa semana conheci o pessoal da WeDoctor através de um post do Lucas Marques.

A WeDoctor é uma startup chinesa que começou auxiliando no agendamento de consultas e hoje se tornou o primeiro hospital virtual do mundo. Os números deles são impressionantes:

  • + de 3.200 hospitais
  • + de 290.000 médicos
  • + de 200.000.000 usuários

Claro que boa parte desses dados ainda são de usuários que usam o serviço de marcação de consultas, visualização online de resultados de exames, etc. Mas dentro desse mundo de gente, eles já estão operando um hospital online e eu queria aprofundar um pouco em o que isso quer dizer e o que pode trazer de insights e inspiração para os que estão mirando o futuro da saúde no Brasil:

  • O primeiro ponto é o mais simples de replicar. Com as várias plataformas de conferência disponíveis hoje (Skype, Hangout, Whatsapp, Zoom, etc), qualquer um pode conversar por vídeo e com qualidade de qualquer lugar do mundo, desde que tenha acesso a uma rede estável de internet. Boa parte dos atendimentos mais simples pode ser resolvido facilmente com uma conversa entre médico e paciente de 5 min. Boa parte das vezes que você não foi no médico e se auto medicou, poderiam ter sido resolvidas com uma conversa de 5 min. E não só isso, imagine resolver o problema de atendimento primário em locais onde nenhum médico quer residir?
  • O segundo ponto envolve um desenvolvimento de hardware pesado que eles fizeram. A foto abaixo mostra um equipamento desenvolvido por eles que faz exames mais simples, que englobam 80% das doenças rotineiras que as pessoas costumam ser diagnosticadas. Óbvio que hoje, você ainda não teria um equipamento desse em casa, mas eles podem ser espalhados em hospitais, postos de saúde, clínicas de bairro, etc. O que facilitaria muito a sua ida ao médico.

  • Outro ponto desenvolvido por eles é a utilização de aprendizado de máquina para melhorar o diagnóstico dos médicos. No futuro, eu realmente acredito em um software que, colocando os dados dos sintomas apresentados, dará o diagnóstico com precisão de 99% (O Watson da IBM já faz isso para parte das doenças que ele foi programado a aprender e é uma questão de tempo para que ele ou outra inteligência artificial faça isso para 99% das doenças conhecidas). Na WeDoctor eles já estão testando isso. Hoje o software deles já sugere os potenciais diagnósticos para os médicos que utilizam a plataforma, e com o tempo essas sugestões estão ficando cada vez mais acertadas. Em pouco tempo a presença do médico para o diagnóstico de algumas doenças será dispensável.
  • Uma vez que você está conectado em todo os seus exames, o software dele pode começar a relacionar os vários sintomas e atendimentos que você teve na vida e entender com mais exatidão o seu quadro de saúde. Uma dor de cabeça pode ser somente uma dor de cabeça que é tratada com um analgésico simples. Mas uma dor de cabeça recorrente, associada a enjoo na semana passada e uma leve dor no peito no mês passado, pode significar o início de uma doença muito mais séria. Hoje os médicos não tem condição de avaliar esse tipo de informação na velocidade que seria necessária para um diagnóstico preciso.
  • Da mesma forma, essa inteligência de dados pode te ajudar a organizar os exames e consultas necessários, te ajudando a manter em dia as suas consultas, e no futuro, inclusive, combinando informações de exercícios, wearables de monitoramento, etc.

Lembrando um ponto importante. Me propus a falar hoje sobre o futuro da saúde, mas isso tudo que eu descrevi acima já acontece. Já existe. Já é realidade para milhares de chineses.

Eu costumo dizer também que uma das vantagens de se morar no Brasil é a possibilidade de olhar para adiante e se preparar para quando as novidades chegarem aqui. Falei um pouco sobre isso no post “Viagem no tempo existe, ao menos no mundo dos negócios”. Com a saúde do futuro, portanto, não deve ser diferente. 

Então se você é uma startup começando nesse setor e o seu negócio não está conectado com os pontos que eu mencionei acima, sugiro fortemente que você repense o seu caminho.

Se você é uma empresa do setor, saiba que o futuro da saúde passa por esse modelo, que logo vai chegar aqui. Cabe a você se antecipar e construir, se conectar ou se adaptar a esse novo modelo. Caso contrário, o seu mercado vai virar de ponta cabeça de uma hora para outra, sem que você nem entenda o que aconteceu.

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Por |2023-05-22T12:38:56-03:0014/08/2019|empreendedorismo|

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Atuo no mundo da inovação desde 2008. Já atuei em incubadora, consultoria e aceleradora, acelerando mais de 900 startups. Sou formado em Ciências Biológicas e Especialista em Gestão, e por isso gosto de misturar mundos diferentes para trazer mais inovação para o meu dia-a-dia. Coordeno os programas da Troposlab e crio novas metodologias de aceleração, atuando diretamente com mais de 50 grandes empresas. Além disso, tenho um lado nerd (ficção científica, heróis, histórias de aventura, etc).
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