O QUE A PARALISAÇÃO DOS CAMINHONEIROS NOS ENSINA SOBRE LIDERANÇA

Antes de começar esse artigo, gostaria de fazer alguns avisos:

  1. Estou escrevendo esse artigo no dia 27/05/2018 (domingo), a paralização acaba de chegar no 7º dia. Até então boa parte das rodovias estão paradas, os postos de muitas cidades estão sem combustível, ainda não existe desabastecimento de comida, embora alimentos mais perecíveis como frutas e verduras estejam em falta em alguns lugares.
  2. É quase impossível comentar o assunto sem algum envolvimento político, vou tentar ser o mais imparcial possível, mas uma análise do nosso momento político na minha opinião é inevitável para entender melhor o que está acontecendo.

Vamos começar então:

Estamos vivendo uma paralização sem precedentes no Brasil, os caminhoneiros completam hoje 7 dias de paralização e a população se divide entre aqueles que apoiam e que condenam o movimento (aparentemente até então, mais apoiando do que condenando). E mais, com um apoio que transcende classes sociais.

Esse protesto é reflexo de anos de políticas mal direcionadas em relação a combustíveis que passa por:

  • Um subsídio irreal durante anos dos Governos Lula e Dilma;
  • A má gestão e corrupção da Petrobras durante anos e talvez décadas;
  • Uma mudança de abordagem de preços mal feita no último ano (durante o Governo Temer) fazendo com que os combustíveis aumentassem quase 50% em poucos meses para o consumidor.

Existe um consenso, cuja opinião eu compartilho, que o preço pago por combustíveis e vários outros produtos e serviços no Brasil é muito maior do que em outros países, chegando ao absurdo de com frequência vermos produtos produzidos no Brasil chegarem mais baratos no exterior mesmo com os custos de frete, impostos de exportação e tudo mais.

Outro ponto que cada vez é mais claro é a insatisfação da população com corrupção, privilégios e má gestão do recurso público. As manifestações que acontecem desde 2013 mostram isso, junto com os altos índices de votos brancos e nulos nas duas últimas eleições (2014 e 2016).

O problema é que, não existe uma liderança que represente ou guie esses movimentos. Em geral existe a bandeira de que nenhum partido ou organização está por trás desses movimentos, o que visa romper com tudo o que está funcionando hoje.

PT, PSDB, PMDB (agora MDB) e todos os outros partidos significativos são hostilizados nessas manifestações, assim como sindicatos e demais grupos organizados. Por que? Porque boa parte deles está envolvido no mecanismo que os protestos visam combater.

Mas qual o problema da falta de liderança então?

A falta de liderança causa uma falta de objetivo claro. As manifestações de 2013 começaram por conta do aumento da passagem de ônibus (o estopim e não a única demanda) e durante as manifestações surgiram cada vez mais reivindicações de coisas como o impeachment da Dilma, novas eleições, mais investimento em saúde, etc. Resultado, os famosos R$0,20 de aumento não foram para frente, mas as demais reivindicações se perderam no caminho. O impeachment da Dilma, por exemplo, aconteceu mas sem um “plano B”, nos vimos presos ao vice igualmente prejudicial ao país Temer por falta de uma liderança que representasse a mudança.

Nessa paralização dos caminhoneiros estamos vendo o mesmo processo. O Governo não sabe com quem negociar, já que existem várias lideranças que não estão alinhadas entre si, demandando coisas diferentes. Existe uma pauta comum do aumento dos combustíveis, mas alguns grupos pedem intervenção militar, outros pedem a privatização da Petrobras, etc.

Como não existe liderança, falta a visão do todo.

Qual o objetivo da paralização? Mostrar que a categoria consegue parar o Brasil se quiser e assim ter suas demandas atendidas.

Esse objetivo já foi atendido.

Porque continuar com a paralização?

Se a paralização terminasse hoje, a categoria já tem poder suficiente para assumir uma posição de negociação com o Governo e assim chegar em uma solução que atenda a ambos.

Se a paralização continuar, todos perdem.

  • As indústrias perdem com o prejuízo das suas cargas paradas;
  • Os comerciantes perdem pela falta de clientes (ninguém quer sair de casa e evitará comprar o que não for inevitável, ou você acha que os shoppings estão cheios de pessoas comprando roupa nesse final de semana?);
  • Os consumidores perdem em curto prazo pagando mais caro pelos produtos que estão na prateleira e a médio prazo pagando mais caro para cobrir os prejuízos dos dias parados;
  • Os caminhoneiros autônomos perdem os dias não trabalhados e os contratados podem esquecer aumentos em curto prazo, já que suas empresas tiveram prejuízo;
  • E nesse momento de desemprego ainda alto, podemos esperar um aumento nesse número caso a paralização persista, ou você acha que uma empresa vai manter a mesma folha de pagamento caso tenha prejuízo no período?

Um líder nesse momento é importante para ter a visão do todo, para alinhar um objetivo comum e assim garantir as melhores estratégias para cada momento.

Estendo essa visão ao nosso momento político da disputa a presidência. Não possuímos hoje um líder que represente essa demanda e seja reconhecido pela população. Enquanto não encontrarmos uma liderança, seguiremos em iniciativas isoladas, pouco eficientes e mal coordenadas, que embora tenham uma boa intenção, acabam causando mais prejuízos do que os benefícios que são almejados.

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Foto: Link (Rodolfo Buhrer/Reuters)

 

Por |2022-11-15T22:42:19-03:0004/06/2018|artigos|

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Atuo no mundo da inovação desde 2008. Já atuei em incubadora, consultoria e aceleradora, acelerando mais de 900 startups. Sou formado em Ciências Biológicas e Especialista em Gestão, e por isso gosto de misturar mundos diferentes para trazer mais inovação para o meu dia-a-dia. Coordeno os programas da Troposlab e crio novas metodologias de aceleração, atuando diretamente com mais de 50 grandes empresas. Além disso, tenho um lado nerd (ficção científica, heróis, histórias de aventura, etc).
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