POR QUE MUDAR O MUNDO NÃO É UMA MISSÃO TÃO SIMPLES

Momento de mudança, mudança de era, time for change, do it yourself, experimentação, empreendedorismo, propósito. Estamos rodeados por conceitos que têm em comum uma busca intensa por ser parte da transformação, mudar o mundo através das próprias mãos, empreender, transformar.

Nós somos parte desses grupos que entenderam essa necessidade e o nosso papel nessa história toda. Mas a verdade é que essa não é uma missão tão simples, temos “a faca e o queijo na mão”, mas ainda não sabemos muito bem como essa faca pode cortar o queijo.

Mudar o mundo não se resume a identificar problemas e criar produtos e serviços que os resolvam. Não, essa mudança não se resume a empreender. Alguns estudiosos sobre o assunto apontam que se quisermos ser realmente parte da mudança precisamos nos preparar para organizar movimentos.

Ou seja, “esforços organizados que mobilizam grande número de pessoas independentes com um esforço para prosseguir uma ampla agenda de mudança”(John Hagel). Dentro desse contexto, por que os movimentos seriam grandes potencializadores de mudança? E por que ainda estamos engatinhando nesse processo de transformação?

O momento

O consumismo que tem definido nossa sociedade nos últimos 300 anos vem acompanhado de uma pressão por trabalhar e obter sucesso na vida, ao mesmo tempo em que somos pressionados a viver o máximo de experiências possível.

Dentro desse contexto, ficamos quase sem tempo para tentarmos mudar o mundo, e até mesmo um tanto quanto cínicos em relação a assumir nosso papel de mudança nessa realidade em que grandes organizações dominam não só aspectos econômicos, mas também políticos e sociais.

Com isso, apesar do desenvolvimento tecnológico que é capaz de nos deixar mais aptos a colaborar mesmo a longas distâncias, permanecemos por muito tempo passivos. Segundo estudos apresentados por John Hagel, autor especializado em estratégias de negócios e tecnologia da informação, o termo movimento foi perdendo (e não ganhando) força com o passar dos anos.

Mas não por muito tempo. Sistemas e instituições políticas, econômicas e sociais em crise se somam ao advento de tecnologias a um ritmo nunca antes visto na história da humanidade. E não precisamos ir muito longe na investigação de tecnologias exponenciais, futurismo, inteligência artificial e outros artefatos tecnológicos altamente disruptivos para vislumbrarmos esse cenário.

Basta identificarmos o modo como a internet transformou as sociedades ao acelerar o ritmo de nossas vidas e aumentar os níveis de incerteza, ao mesmo tempo que aproxima pessoas, descentraliza sistemas e estimula a transparência e a comunicação.

A internet ao mesmo tempo em que evidencia a insatisfação com os nossos modelos, nos torna mais aptos a questionar e propor mudanças. E em tempos de crise, podemos entender e buscar através da própria internet como criar movimentos mais organizados para gerar transformação.

Movimentos e a crise dos sistemas

Economia compartilhada, economia colaborativa, movimento maker, protagonismo da mudança, sistemas B, empresas sociais, desescolarização, teoria U, slow movement, mindfulness, a vida acontece offline… Você provavelmente já ouviu ao menos alguns, senão todos, desses termos principalmente nos últimos anos.

E parando para avaliar, eles nada mais são que movimentos que surgiram como contraponto ao sistema econômico, ao modelo das empresas, ao modelo de educação e ao próprio modelo de vida.

Mas se esses movimentos têm se tornado cada vez mais populares, ainda não alcançaram totalmente seu potencial quando analisamos sua materialização em ações concretas geradoras de mudança. Por um lado, ouvir falar sobre os movimentos já é um avanço.

Porém, ao criar empresas e negócios, muitos empreendedores ainda se baseiam em modelos que não as leva em consideração ou até tentam criar a partir deles mas se perdem no meio do caminho, deixando morrer iniciativas que poderiam ser altamente transformadoras. E talvez a raiz dessa dificuldade esteja no próprio entendimento da palavra movimento.

Muitas vezes criamos uma empresa para propor mudança e inovação, mas inevitavelmente levamos conosco nossa vontade de obter sucesso e prosperar.  Afinal, passamos uma vida entendendo que esse é que deve ser sempre o nosso objetivo, e isso por si só não é um problema.

O problema acontece quando, na busca por prosperar, perdemos o senso de impacto e comunidade e esquecemos que a ideia de qualquer movimento é — acima de tudo — criar junto. Segundo John Hagel, movimentos só prosperam quando criam narrativas e espaços de criação. Ele explica: diferente de histórias, narrativas são abertas e só vão ser resolvidas a partir da ação dos ouvintes.

Já os espaços de criação se baseia na criação de ambientes de compartilhamento e aprendizado. Ou seja, movimentos só prosperam quando envolvem pessoas mobilizadas criando valor juntas, o que talvez seja a nossa maior dificuldade quando perseguimos o sucesso.

Todos esses movimentos citados refletem o esgotamento não só de sistemas como também de valores. Afinal, quando falamos de economia compartilhada estamos saindo de uma lógica de posse para uma lógica de acesso, quando falamos de economia colaborativa saímos da lógica individualista para a lógica de comunidade, quando falamos de desescolarização nos abrimos para a multiplicidade e incerteza. Enfim, todos esses movimentos de alguma forma nos fazem abandonar a ilusão e abraçar a transparência, só para citar alguns exemplos.

E por mais que todos esses novos valores nos brilham aos olhos, fazer essa transição exige uma mudança de hábitos muito profunda, o que não é tão fácil assim. Nizan Guanaes, dono do maior grupo publicitário do Brasil afirma que “o futuro não é difícil de entender, é difícil de aceitar”, uma vez que ficamos tão presos aos nossos modelos que mesmo quando tentamos não conseguimos fazer diferente.

Mudar o mundo é transformar, mas primeiro você

Portanto, podemos concluir que estamos esgotados com grande parte dos sistemas e instituições. Temos boas intenções para criar novas iniciativas alternativas, e esse primeiro passo já foi dado por muitos para promover transformação.

Mas, só conseguiremos alcançar o potencial de transformação se criarmos novos hábitos que escapam à lógica industrial e, de alguma maneira, abraçarmos essa nova forma de criar em comunidade.

É estar atento a como iremos encontrar, mobilizar, incluir, horizontalizar pessoas em torno de um objetivo comum. É substituir a lógica de sucesso pessoal pela lógica de priorizar o bem comum. E, assim, parar de engatinhar para dar passos largos na transformação de si mesmo, da forma de empreender e de mudar o mundo.

Experimente o movimento

Como a própria definição de movimento apresenta, reflexão só faz sentido se leva à ação. Por isso, nos propomos a responder algumas perguntas que nos levassem a experimentar esses conceitos apresentados. Agora, convidamos você a refletir e fazer o mesmo:

  • Dentro das suas atividades de trabalho hoje, o que você faz que guarda o bem das próximas gerações?
  • Como você tem envolvido as pessoas na criação de iniciativas em conjunto?
  • Quais hábitos você mantém no seu modo de criar, trabalhar e se relacionar que não fazem mais sentido dentro dos novos contextos apresentados?
  • Quais aspectos do mundo você deseja transformar a partir do seu esforço e como você pode incluir mais pessoas nesse processo?
Por |2022-11-16T09:49:40-03:0009/08/2017|artigos|

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Atuo no mundo da inovação desde 2008. Já atuei em incubadora, consultoria e aceleradora, acelerando mais de 900 startups. Sou formado em Ciências Biológicas e Especialista em Gestão, e por isso gosto de misturar mundos diferentes para trazer mais inovação para o meu dia-a-dia. Coordeno os programas da Troposlab e crio novas metodologias de aceleração, atuando diretamente com mais de 50 grandes empresas. Além disso, tenho um lado nerd (ficção científica, heróis, histórias de aventura, etc).
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