Empreender é um desafio imenso. Empreender no Brasil, um desafio maior ainda. Empreender no Brasil 15 anos atrás, um desafio ainda mais desgastante. Empreender no Brasil, 15 anos atrás, na área de tecnologia, uma missão quase impossível.
Começamos a ajudar empreendedores tecnológicos, exatamente há 15 anos — em 2002 — ainda dentro do Instituto Inovação. Na época não se falava em startups, no máximo nos referíamos a esse tipo de empresa como “empresas de base tecnológica”.
Os desafios eram imensos, não havia benchmarking para usar como referência, as metodologias disponíveis eram apenas aquelas desenhadas para grandes empresas e/ou negócios tradicionais (planos de negócios, análise SWOT, 5 forças de Porter, etc) e o pior, todos esses empreendedores estavam isolados. Os poucos que se arriscavam nesse mundo inóspito e novo do empreendedorismo de base tecnológica no Brasil não se conheciam.
Mas ao longo dos últimos 15 anos muita coisa mudou. O termo “startup” se popularizou e hoje está nas novelas, nas rádios, nas escolas e no budget de muitas grandes empresas. As aceleradoras explodiram, algumas fecharam, outras surgiram.
Os programas incentivados pelo setor público conseguiram aproximar várias dessas startups de investidores, mentores, grandes empresas e da mídia. E os eventos sobre o tema se espalharam por todo o país.
Claro que o Brasil ainda está a anos-luz dos países em que se inspira (EUA, Israel, Chile) mas é inegável que houve uma revolução e que empreendedorismo é algo mais próximo da realidade de todos. O que é uma grande vitória em um país que tem todo o seu sistema educacional e econômico voltado para formar funcionários públicos e de multinacionais.
No entanto, com a ascensão do empreendedorismo, veio também uma vertente nociva e na moda hoje: o “Empreendedorismo de Palco”. Esse tipo de empreendedorismo se caracteriza por tender mais ao motivacional do que ao prático, muitas vezes beirando a autoajuda.
Muitos eventos têm atraído grande público com esse tipo de abordagem, como eventos de um final de semana dos quais você sai com o seu negócio até demodays em que as empresas apresentam pitchs de 5 minutos para tentar conseguir um investimento.
Obviamente, os críticos desse modelo começaram (com razão) a apontar que o empreendedorismo de palco prejudica o desenvolvimento das empresas. Afinal, quanto mais tempo você passa em eventos do tipo, menos você dedica ao desenvolvimento do seu negócio, certo?
O problema é que os mais extremistas têm tendido para o outro lado, demonificando todos os eventos de startups. Como se esses eventos não tivesse uma função na construção do ecossistema de empreendedorismo.
Tive a oportunidade de conversar há alguns anos com o Dave Parker, fundador da UpGlobal e um dos maiores especialistas em construção de ecossistemas de empreendedorismo do mundo. Na nossa conversa discutimos como a densidade de eventos é importante para o crescimento da cultura de empreendedorismo em todos os setores da sociedade.
A verdade é que eventos como Startup Weekends, Hackthons, DemoDays são muito importantes para motivar novos empreendedores ou “empreendedores wanna be”. Quando alguém dentro de uma universidade ou de uma grande empresa decide entender mais sobre empreendedorismo, é porque essa pessoa deseja conhecer melhor e SENTIR que o empreendedorismo é o caminho certo para ela.
Os eventos de entrada nesse mundo empreendedor não são conteudistas, mas proporcionam experiências. E sim, uma vez passada essa fase, os empreendedores devem cada vez menos dedicar tempo a esse tipo de evento para poder dedicar-se a elementos que ajudem mais as suas empresas de forma prática. No início, mentorias e eventos de networking e, mais à frente, reuniões comerciais.
Esse boom de eventos que vivemos foi e é relevante para que não tenhamos o cenário de 15 anos atrás — onde nenhum empreendedor conhecia o outro, não havia quem os ajudasse e a sociedade condenava o empreendedorismo.
Portanto, respondendo a pergunta do nosso título: eventos de startup, participar ou não participar?
Se você está começando, vá ao máximo de eventos que conseguir, faça contatos, aprenda conteúdos e VIVA o empreendedorismo. Se você já começou a rodar o seu negócio, não vire arroz de festa nos eventos, mas vá de vez em quando para não correr o risco de ficar isolado.