No artigo “Innovation processes: Which process for which project?”, pesquisadores da Universidade de São Paulo realizaram um estudo completo sobre os melhores processos de inovação para cada tipo de projeto. O propósito era identificar novas configurações além do modelo tradicional de inovação.
Os resultados são interessantes e nos mostram que, de fato, as características do contexto são importantes na hora de analisar esse tema. Aliás, vale dizer que a unidade de análise da pesquisa é o próprio processo de inovação e não a empresa, já que uma mesma organização pode apresentar diferentes processos.
Ao avaliar 72 empresas e 132 produtos inovadores, a conclusão do grupo foi que existem 8 tipos de processos de inovação. Acompanhe a seguir quais são eles para entender um pouco mais sobre o tema!
Os 8 tipos de processos de inovação
1. Processo tradicional: da ideia ao lançamento
Esse seria o método mais utilizado em grandes empresas, que normalmente apostam em inovação incremental. A primeira etapa é fazer uma pesquisa de mercado para estimular a geração de ideias que, mais tarde, serão selecionadas segundo as tendências e possibilidades de desenvolvimento. O estágio final é o lançamento do produto.
Apesar de ser um processo que consome bastante tempo e recursos, ainda corresponde à grande maioria dos casos e o foco está no ROI (retorno sobre investimento). Dos contextos analisados pelo estudo, 53% se encaixam nesse grupo.
2. Antecipando vendas: abordagem customizada (open order)
Essa é uma alternativa que considera a participação do cliente no processo de inovação, seguindo um formato de co-construção ou co-criação. Isto é, a empresa busca oportunidades no mercado e desenvolve junto com o cliente as ideias de soluções.
É como se as vendas acontecessem antes mesmo do desenvolvimento do produto. Inclusive, o consumidor pode até pagar pela “encomenda” antecipadamente e o processo só termina quando a entrega é realizada. Isso acontece, por exemplo, quando a Força Aérea do Brasil apresenta a demanda de um avião de carga para a Embraer.
Uma das vantagens desse modelo é reduzir as incertezas de venda. Por outro lado, é preciso ter segurança na capacidade de desenvolvimento do produto para garantir o sucesso do negócio. De todas as empresas avaliadas pelo grupo, apenas 6,1% usam esse processo de inovação.
3. Antecipando vendas: abordagem que parte de uma especificação do cliente (close order)
A diferença desse processo para o anterior é que aqui existe uma especificação do cliente para o fabricante. A venda também acontece antes do desenvolvimento e da entrega, mas é preciso seguir as orientações de produção. É claro que a empresa pode sugerir novas funcionalidades, só que tudo vai depender do que foi acordado com o cliente e das necessidades apontadas por ele.
O grande benefício é ter o mínimo nível de incerteza possível, sendo uma venda praticamente garantida. A recorrência desse tipo de processo de inovação é ainda menor e representa 5,3% dos casos estudados.
4. Processo iniciado por uma chamada pública ou privada
Esse é um modelo que também é conhecido como licitação, no qual a empresa atende a uma demanda de instituição pública ou privada. O processo de inovação começa depois da assinatura do contrato de venda, mas antes há “chamada” para alinhar as necessidades do cliente com as ofertas de desenvolvimento das empresas.
Mais uma vez, esse acordo prévio ajuda a reduzir as incertezas no desenvolvimento e nas vendas. Essa configuração corresponde a 12,9% dos resultados da pesquisa.
5. Processo com interrupção: aguardando o mercado
A inovação também pode ser interrompida em alguns momentos por motivos diversos. Nesse caso, acontece um desenvolvimento inicial do produto com venda para um nicho de mercado. Enquanto isso, a empresa trabalha para fomentar o mercado e buscar novos clientes, pois ainda não conseguiu escalar suas vendas o suficiente. Isto é, a incerteza é um fator presente nesse cenário.
Isso representa um comportamento ativo da organização, já que ela não interrompe o projeto e foca recursos em expandir suas oportunidades. O detalhe é que, inicialmente, ela prefere continuar com o produto experimental até perceber se vale a pena ou não investir mais na sua produção.
Se as perspectivas forem positivas, uma segunda etapa de desenvolvimento ocorre para integrar melhorias. A empresa começa a desenvolver a solução principalmente quando o cliente demonstra interesse, podendo até ser financiada pelo próprio consumidor.
6. Processo com interrupção: aguardando o avanço tecnológico
Outra razão para interromper o processo é a tecnologia, sendo essa a principal fonte de incerteza nessa conjuntura. Para desenvolver um novo produto, é preciso ter toda a infraestrutura tecnológica e conhecimento para tal. Logo, o tempo de interrupção serve para entender as possibilidades e focar em pesquisas. Inclusive, pode ser que essa etapa dependa de um outro parceiro (instituição, academia, empresa etc).
Quando não é possível viabilizar todo o projeto de uma vez, a organização pode optar por lançar uma primeira versão até que tudo seja resolvido para conseguir desenvolver o produto completo. Essa opção foi encontrada em apenas 3% das empresas avaliadas.
7. Processo com interrupção: aguardando pelo avanço tecnológico e viabilidade do mercado
Essa é a circunstância que une duas causas de incerteza que influenciam a interrupção do processo: a tecnologia e o mercado. Embora não seja comum (somente 1,5% dos casos), as pausas são um pouco mais complexas e exigem proatividade da empresa.
Os gestores precisam estudar o mercado, partindo de um nicho até encontrar maiores oportunidades e estabilidade. Um exemplo disso é quando a empresa lança uma primeira versão para garantir seu pioneirismo no mercado e depois trabalha melhor aquela solução.
8. Processo com atividades paralelas
Se nos processos anteriores as incertezas justificavam uma pausa, nessa situação isso não ocorre. As dúvidas são mitigadas com o lançamento de uma primeira versão, enquanto atividades paralelas são desenvolvidas para o lançamento de versões melhoradas. As primeiras vendas servem como teste e os feedbacks são fundamentais para os aprimoramentos. Isso acontece muito em mercados dinâmicos, como tecnologia e moda.
Enfim, uma das conclusões mais importantes do estudo é que a gestão da inovação está relacionada ao gerenciamento de incertezas e esse é um dos motivos pelos quais é essencial avaliar cada caso. Ou seja, não dá para generalizar e querer adotar o mesmo processo sempre.
As condições de cada projeto não podem ser desconsideradas, pois é justamente isso que vai ajudar a desenhar processos mais personalizados e com maiores chances de sucesso.
Outro aprendizado é que os obstáculos no caminho podem gerar pausas sem necessariamente implicar no abandono do processo de inovação. Muitas vezes, elas são necessárias para acertar o resultado final. A inovação nem sempre é um processo linear e tradicional, e essa é uma ideia que poucas pessoas já conseguiram compreender.
E se necessitar de ajuda para planejar seus processos de inovação e obter resultados concretos com inovação, entre em contato com a gente.