ARTE, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E EMPREENDEDORISMO

O encanto pela ciência e como ela pode mudar nossa vida tem dado uma identidade única ao trabalho artístico de Patricia Piccinini. Estivemos em sua palestra no CCBB e em sua exposição e aprendemos muito sobre como a visão de artista pode nos fazer ver, experimentar e discutir onde a ciência pode nos levar. Mas também aprendemos sobre como a Patricia faz arte, e percebemos que temos lá um bom exemplo do que chamamos habilidades empreendedoras e que paradigmas que buscamos romper no empreendedorismo também estão sendo quebrados na ciência e na arte. O ponto de convergência? Tecnologia.

A tecnologia tem sido usada para expandir as fronteiras da ciência. Por exemplo,  a combinação da mineração de dados* com pesquisas sobre o câncer, onde a mineração de imagens pode ajudar a classificar mais acuradamente tipos de tumor, pode trazer informações mais precisas sobre um prognóstico e tratamento dos pacientes. Quando aplicada a pesquisa científica, a mineração de dados pode acelerar em dezenas de vezes a velocidade de progresso de questões complexas, encontrando padrões que influenciam e que manualmente poderiam demorar muitos anos para serem encontrados.

Da mesma forma a tecnologia tem possibilitado que novos negócios surjam e sejam escaláveis. É o caso das startups financeiras que tem utilizado tecnologias da computação para automatizar, simplificar e dar segurança a processos, tornando os custos do serviço exponencialmente menores e viabilizando novos modelos de negócio. Além da computação, biotecnologia, nanotecnologia, engenharias e tantas outras ciências tem levado ao mercado produtos disruptivos baseados nos avanços tecnológicos.

Na arte, o ateliê da Patricia Piccinini é um belo exemplo. Além da tecnologia ser o tema que inspira o nascimento de suas criaturas, o ateliê utiliza vários tipos de tecnologia para chegar ao trabalho final. A equipe fixa de Patricia tem hoje mais de 10 pessoas envolvidas na elaboração de cada peça. A partir de seus desenhos, simulações computacionais, animações, moldes que utilizam vários tipos de novos materiais, tinturas e tintas diferentes.

Para que esses grandes resultados, que brilham os olhos do mundo, aconteçam alguns elementos comuns são necessários:

Equipes de alto desempenho

Apesar da sociedade ainda esperar por heróis, líderes individuais ou gênios seja na ciência, arte ou novos negócios a tecnologia vem mudando tanto a forma como as coisas são feitas que racionalmente é impossível atribuir os grandes resultados a uma só pessoa. Ainda assim, as manchetes de jornal e capas de revista continuam criando ídolos. Mas por trás das grandes histórias em geral existem dezenas de pessoas apaixonadas pela tecnologia e por colocar grandes ideias no mundo.

Pessoas capazes de se articular, adaptando seu comportamento e linguagem para o entendimento do outro, compartilhando suas visões e paixões sobre cada etapa do processo. Elas colocam uma visão compartilhada e desafiadora a frente de interesses menores.

Na pesquisa que utiliza mineração de dados para encontrar padrões de variáveis sobre o câncer, diferentes conhecimentos, ambos em um nível de profundidade elevadíssimo, se fundem em um processo de discussão de especialistas. Quem é o dono, líder ou herói desse projeto? Porque precisamos de Um?

Apesar de ainda assinar seu trabalho, Patricia Piccinini se esforça em repetir que seria ridículo que ficasse com todo o mérito uma vez que tem mais de 10 pessoas diretamente envolvidas. As criaturas não existiriam se ela estivesse trabalhando sozinha.

Finalmente, um negócio inovador combina minimamente um diferencial tecnológico forte com um modelo de negócios adequado. E, um negócio inovador de sucesso, requer ainda um altíssimo padrão de operação. Todas essas competências estão em um time e não em um herói.

Habilidades empreendedoras

Financiar pesquisas transformadoras, organizar exposições históricas, colocar um novo produto no mercado. Tudo isso requer uma série de habilidades que vão muito além de técnicas e que são empreendedoras no sentido de promover uma transformação significativa no ambiente onde acontecem.

Vender uma ideia, viabilizar a solução de dezenas de problemas, lidar com burocracia, orçamento, barreiras culturais etc, são comuns em todos esses ambientes. Todos eles mobilizam padrões comportamentais semelhantes frente aos três pilares das habilidades empreendedoras que trabalhamos: motivação, realização e relação.

Motivação

Por trás dessa palavra existe um conjunto de habilidades que faz com que as pessoas mantenham seu comportamento de realizar os projetos de transformação na arte, ciência ou novos negócios.

Já que os grandes resultados são atingidos com o tempo, na ciência, arte ou novos negócios é fundamental que as pessoas sejam mais influenciadas pela expectativa dos resultados de longo prazo do que pelo dia-a-dia. Além disso, ver esses resultados em longo prazo e ser influenciado por ele faz com que as pessoas busquem se desenvolver cada vez mais, ampliando seu “repertório” para lidar com os desafios do dia-a-dia.

Realização

Uma visão de longo prazo só se realiza se um conjunto enorme de tarefas do dia-a-dia são cumpridas. As habilidades de realização estão relacionadas a como o empreendedor opera em seu ambiente para fazer as coisas acontecerem, apesar dos desafios inerentes. Seja buscando oportunidades, aprendendo o que é necessário ou planejando e definindo metas.

Relação

A forma como o empreendedor interage com outras pessoas desse ambiente influencia sua capacidade de realizar a visão. Já falamos que esses grandes resultados são construídos em equipes, o que torna esse pilar ainda mais importante. Mas além disso, suas habilidades nesse ambiente social o ajuda a construir redes através das quais barreiras são superadas e grupos fortalecidos. Seja a relação com os curadores do museu, as associações científicas ou os clientes e parceiros estratégicos, o resultado muda conforme o nível de desenvoltura do empreendedor nesse ambiente.

Conexões inusitadas

Vimos que habilidades empreendedoras podem estar presentes em 3 grandes e muito diferentes ambientes de transformação do mundo. Vimos que a tecnologia atravessa todos eles e impõe padrões cada vez mais elevados enquanto amplia as possibilidades e impacto. Mas para fechar esse post de conexões inusitadas, nada melhor do que provocar reflexões também inusitadas. Então, deixamos você (cientista, artista ou empreendedor de um novo negócio) com algumas perguntas para ver se novas colisões podem se conectar com seu propósito, talento e paixões. 😉

Aos cientistas e pesquisadores

Se a ciência influenciou a arte de Patricia Piccinini dando a ela uma identidade e impacto único, como a arte pode influenciar a sua ciência?

Aos artistas

Como você pode usar a tecnologia e a articulação com outros conhecimentos para dar forma a trabalhos cada vez mais impactantes? Quão autoral você precisa ser?

Aos empreendedores de novos negócios

Como a arte pode inspirá-lo a capturar tendências que influenciam seu negócio? Quão autoral você precisa ser?


*Mineração de dados é um processo que usa a tecnologia da computação para encontrar padrões em volumes gigantescos de dados. Seja pelo volume de dados, seja pelos padrões encontrados, esse trabalho seria praticamente inviável se feito manualmente.

Foto: Teenage-Metamorphosis – Patricia Piccinini

Por |2022-11-16T09:45:46-03:0031/10/2017|artigos, empreendedorismo|

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Atuo no mundo da inovação desde 2008. Já atuei em incubadora, consultoria e aceleradora, acelerando mais de 900 startups. Sou formado em Ciências Biológicas e Especialista em Gestão, e por isso gosto de misturar mundos diferentes para trazer mais inovação para o meu dia-a-dia. Coordeno os programas da Troposlab e crio novas metodologias de aceleração, atuando diretamente com mais de 50 grandes empresas. Além disso, tenho um lado nerd (ficção científica, heróis, histórias de aventura, etc).
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