Seja sincero: quantas vezes você leu um título de uma matéria, achou super interessante e, apesar de não ter lido ela completamente, compartilhou nas suas redes sociais ou através da sua própria fala em conversas informais?
A quantidade de informações a que somos expostos hoje, diariamente, é maior que toda a quantidade que um camponês medieval era exposto durante a sua vida inteira. Ou seja, nunca fomos expostos a um volume tão grande de informações e a verdade é que não estamos conseguindo acompanhar.
Dessa forma, apesar desse volume disponível crescer, acompanhamos um paradoxo em que muitas vezes ficamos menos e não mais bem informados, nos mantendo muitas vezes na superficialidade do conhecimento.
Por que essa abundância de informação muitas vezes não é usada a nosso favor e como podemos mudar nosso processo de educação para transformá-la em conhecimento?
Vivemos um momento de abundância e liberdade, em que as escolhas também se ampliaram. Barry Schwartz, escritor e autor do TED “o paradoxo da escolha”, nos apresenta o cenário em que estamos inseridos:
“Só uma palavra sobre molhos para salada.175 molhos de salada no meu supermercado, sem contar os 10 tipos de azeite de oliva extra-virgem e os 12 vinagres balsâmicos disponíveis para você fazer uma grande variedade de seus próprios molhos, caso nenhum dos 175 que a loja oferece seja do seu gosto.”
E no mundo da educação não é muito diferente, uma vez que a quantidade de informação disponível é cada vez maior e os meios de acessá-las também são múltiplos. Há alguns anos o processo de educação e até mesmo de carreira era mais linear, repetitivo, segmentado e previsível — assim como uma fábrica, defende Thiago Matos em seu livro VLEF.
O aprendizado acontecia prioritariamente na escola, as matérias eram bem definidas, o caminho dos alunos era linear. Reconhecia-se que aqueles que fizessem um bom processo de aprendizado escola-faculdade-pós-graduação provavelmente alcançaram um bom emprego, em uma empresa onde aconteceria também um crescimento linear.
Hoje já entendemos que, assim como a internet tornou o mundo menos linear, o processo de aprendizado também ocorre de múltiplas maneiras, em uma diversidade de espaços e em uma jornada que nunca acaba, e que vai muito além do percurso predefinido e padronizado de educação de outrora.
Você provavelmente já passou por alguma dessas situações na qual lhe é apresentada uma infinidade de opções. E apesar de em um primeiro momento o cenário lhe parecer excelente, logo em seguida você se vê tão perdido, paralisado e angustiado que talvez a abundância não lhe pareça tão boa assim.
Alguns especialistas cunharam o termo FOMO (fear of missing out) para definir essa angústia social que sentimos uma vez que nos vemos pressionados a nos mantermos constantemente informados, conectados e atualizados.
Em seu TED, Schwartz usa o termo “paradoxo da escolha” para explicar os efeitos negativos da quantidade de escolhas que nos é apresentada hoje. Paralisia, menos satisfação com o resultado das nossas escolhas, indecisão, procrastinação, ansiedade e até efeitos físicos e psicológicos são observados principalmente nas gerações Y e Z por conta justamente da abundância a que são expostos e a necessidade de acompanhar tudo aquilo que lhes é apresentado.
A realidade é que a informação está disponível e o acesso é cada vez mais aberto, mas o tempo ainda não é abundante e a capacidade de atenção ainda está altamente dispersa. Nesse mundo de excesso de informação, conceitos que tem ganhado força são os de desaprendizado, desescolarização e a ideia de que você faz a sua educação.
A proposta é relativamente simples: não precisamos seguir um processo padronizado de educação e devemos buscar autonomia de aprender e ensinar em diversos ambientes de aprendizados.
A partir disso, não precisamos ficar ansiosos e compulsivos por consumir informação, uma vez que jamais conseguiremos abarcar tudo aquilo a que somos expostos, e cabe a nós mesmos exercermos nossa autonomia de acessar o conteúdo que mais faz sentido para nós.
Mas se a ideia é simples, colocá-la em prática não é tanto assim. Reunimos por isso alguns conceitos importantes para que realmente consigamos nos tornar protagonistas da nossa educação e assim usar a abundância de informação a nosso favor.
- Autoconhecimento: não é atoa que autoconhecimento é a bola da vez nas mais diversas áreas. Afinal, em um mundo de multiplicidade, é cada vez mais importante sairmos do piloto automático e dos caminhos pré determinados, seja para sairmos do lugar, seja para não nos perdermos tanto assim. Precisamos ter alguma clareza do que queremos, para que assim possamos priorizar e escolher dentre uma infinidade de informações disponíveis, aquela que realmente irá culminar no conhecimento que buscamos acessar.
- Ser ativo e não passivo: de alguma forma aprendemos em muitos casos a sermos passivos na nossa educação, pois sempre tivemos regras a cumprir e a figura de autoridades na escola e na sala de aula para nos cobrar. Mas se entendemos que você faz a sua educação, não faz sentido contar com figuras de autoridade, e por isso precisamos assumir papéis ativos e não mais passivos no nosso processo de aprendizado.
- Priorizar e escolher: só conseguimos focar a nossa atenção, priorizar e escolher quando criamos critérios. O processo de aprendizado vai funcionando melhor com o passar do tempo, uma vez que vamos identificando formas de filtrar para onde vai nossa atenção, e otimizamos elas a medida que nos tornamos mais e mais conscientes sobre nós mesmos e o caminho que desejamos seguir. Sem o estabelecimento de critérios ficamos facilmente dispersos e adotamos muitas vezes o comportamento de manada ao buscar acessar o conhecimento padrão e mainstream, e nos mantermos na superficialidade dos conteúdos.
- Desapegar: e, se estamos falando de priorização, não podemos deixar de falar do desapego. E talvez desapegar de conhecimento seja um dos desapegos mais difíceis, pois significa abrir mão de algo que teoricamente só nos faz bem. Quando você se assume protagonista da sua educação, torna-se necessário falar não e abrir mão de acessar toda a informação disponível, por mais atraente que lhe pareça.
- Aprofundar: como sair da superficialidade? Não se trata apenas de ler mais sobre o mesmo assunto, mas exercitar suas próprias reflexões sobre o tema, dando significado a ele a partir de suas próprias referências. Além disso, complementar seu conhecimento com experiências de aprendizado práticas e reais. Vivenciar o conhecimento e não apenas contemplá-lo.
E você? Como tem aplicado esses conceitos na sua educação? Em que ambientes se sente protagonista do seu processo? Alguma dica para adequarmos nosso processo de educação em cenários de abundância de informação?