Trabalho com inovação e empreendedorismo há mais de 15 anos. Tenho acompanhado vários movimentos de grandes empresas, universidades e empreendedores durante esse período.
Vimos, ao longo dos anos, o movimento de inovação começar de forma tímida, sempre com alguns “bandeirantes” dentro de suas empresas ou instituições com muito custo conseguindo orçamento para um projeto… ou um empreendedor fora da curva conseguindo criar um negócio em um ambiente completamente inóspito.
A partir do início dos anos 2010, esse ambiente começou a ganhar mais tração. O termo startup começou a ser usado no Brasil e comunidades de empreendedores de startups começaram a surgir. No primeiro momento, vimos movimentos isolados em cidades como Belo Horizonte, Florianópolis e Recife. Mas logo esse movimento se espalhou e ganhou o Brasil.
Mas ganhar o Brasil não significa um desenvolvimento equânime desse ecossistema. Como quase tudo no Brasil, vimos São Paulo emergir para esse mercado, as grandes empresas com sede lá (a maioria das grandes empresas do Brasil) trazerem investimento para espaços e programas, os investidores se multiplicarem e o mercado começar a se consolidar.
Junto de São Paulo, mas ainda quilômetros de investimento atrás, o sul se posiciona com várias cidades que respiram inovação e empreendedorismo. E não só nas capitais, mas também em cidades como Chapecó, Maringá e Caxias do Sul. Minas Gerais perde o protagonismo que teve no início dessa onda, mas ainda assim se mantém relevante. O Rio de Janeiro por sua vez parece ter um movimento próprio, possui grandes empresas para incentivar seus programas, mas parece mais isolado do ecossistema nacional. E as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste avançam ainda de forma devagar.
Porém, olhando para frente, isso já está caminhando para mudar. Nesse último ano tivemos passos gigantes de estruturação e surgimento de iniciativas olhando para fora do eixo Sul-Sudeste. Além de iniciativas nacionais que sempre foram oportunidades para todo o Brasil, o Nordeste ganhou o Startup NE, que sozinho acelerou 1800 startups (200 em cada estado). Claro que muitas dessas startups ainda estão em estágio inicial, mas esse volume é necessário para criar densidade. Densidade a longo prazo é igual a cases de sucesso.
O Nordeste On (NeOn) foi o maior evento de startups da história da região, fazendo com que aceleradoras e investidores fizessem o caminho contrário, saindo do sul e sudeste para ir ver essas startups. E, junto com esse movimento, novas aceleradoras e investidores têm surgido na região.
Programas já tradicionais como o Sebrae Capital Empreendedor, que atua em todo o Brasil, tem ano após ano crescido o número de participantes da região. Na primeira edição em 2018, apenas 1 estado participante era do Nordeste (o Maranhão). Agora em 2023, vemos a participação da Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará, além de participantes de todos os estados da região como convidados nas edições de outros estados.
Não posso afirmar que o Nordeste vá ultrapassar a região Sudeste ou a região Sul em termo de volume de oportunidades, investimentos ou mesmo de relevância de cases. Mas com certeza cada vez mais bons negócios surgirão de lá. E para quem se aproximar dessas oportunidades antes, encontrará menos concorrência para aproveitar esse movimento crescente que estamos vendo.