O Brasil está entre as economias mais ricas do mundo e tem potencial amplamente reconhecido para liderar a transição para uma economia verde. Entretanto, enfrenta desafios significativos. Desde 2020, o país perdeu seis posições no Ranking Global de Competitividade, luta para manter sua posição no Ranking Global de Inovação, enfrenta um aumento da desigualdade social e sofre com polarizações políticas e intolerância, entre outros problemas estruturais.
Apesar disso, 2024 trouxe marcos importantes para a inovação brasileira, o que demonstra que há esforços coletivos para superar esses desafios. Esses marcos se refletem no amadurecimento das iniciativas dentro das empresas, nas quais equipes de inovação estão cada vez mais integradas às estratégias corporativas. Isso tem gerado resultados concretos.
No setor público, políticas e programas voltados para o desenvolvimento do ecossistema e a superação da ineficiência dele – frequentemente destacada como barreira à competitividade – ganharam força. Além disso, hubs e associações têm desempenhado um papel fundamental na difusão da cultura de inovação, colaboração e produtividade. É um esforço conjunto que merece realce.
Destacaremos com mais fôlego os elementos que fizeram de 2024 um ano especial para o ecossistema. Trata-se de uma breve análise de conjuntura que nos ajuda a caminhar para 2025 com passos mais firmes.
Destaques de 2024
Articulações internacionais, grandes eventos, retomada gradual de investimentos, mudanças no mercado corporativo e estruturas formais de fomento. 2024 foi um ano e tanto. A seguir, compartilhamos, de acordo com a experiência da Troposlab, o que foi especialmente importante ao longo desses 12 meses.
Startup20 e G20
Centenas de pessoas se envolveram nos eventos e communiqué do Startup20. Com isso, as discussões avançaram bastante, o que possibilitou articular atores do ecossistema. Em decorrência disso, as lideranças adquiriram uma visão comum e compartilhada de aonde podemos chegar.
Quem trabalha com o desenvolvimento do ecossistema sabe como uma visão compartilhada entre os atores é preciosa. Sabe, também, como é difícil construir isso. E como a inovação se faz por meio do empreendedorismo, essa articulação gerou dezenas de ações e planos ao longo do ano.
Os compromissos públicos assumidos em razão do Startup20 tornam os impactos mais tangíveis. Um exemplo é o Amapá, que sediou o primeiro evento e, em fevereiro, assinou compromisso de investimento e constituiu o primeiro hub de inovação do estado. A partir disso, ocorreram ações, projetos e investimentos em startups.
Vale dizer que todas essas discussões envolveram representantes de quase todos os países do G20 e dos estados do Brasil. Isso demonstra o impacto da iniciativa. E, claro, desdobramentos dos debates estão ocorrendo.
Eventos
2024 foi o segundo ano do Web Summit Riol, que cresceu e chegou a mais de 34 mil pessoas, mais de mil startups, 700 investidores e 600 palestrantes. Isso significa que nos juntamos para aprender, fazer negócios, falar e celebrar a inovação.
Mapeamos mais de 35 conteúdos e palestras do evento, focados em inovação corporativa, e testemunhamos importantes exemplos de alcance mundial de empresas brasileiras que estão levando a inovação a sério. Além disso, destacamos a presença do setor público no evento, na plateia e também apresentando cases do uso de tecnologias de vanguarda na gestão pública.
Por falar em eventos, há também a consolidação de iniciativas regionais. Eles, além de pontos de encontro, são importantes veículos de sensibilização da população. Os participantes querem se apropriar e fazer parte. Isso é muito importante para o desenvolvimento do ecossistema. GoRN, Minas Summit e outros são exemplos.
Investimentos
Os dados completos de 2024 ainda não estão disponíveis. Entretanto, os trimestres iniciais indicam uma gradual retomada dos investimentos em startups no Brasil. Apesar disso, o total anual deve permanecer abaixo dos níveis recordes de 2021. Isso aponta para um cenário de recuperação cautelosa do mercado de venture capital.
Mas não devemos considerar, como métrica, somente o volume de investimentos realizados. 2024 foi um ano importante de dar retornos, com sucesso, aos investidores dos primeiros grandes fundos. Isso fortalece a visão do Brasil como um ambiente de oportunidades, resiliente e capaz de trazer retornos consistentes.
Este também foi um ano para o crescimento e consolidação do Corporate Venture Capital (CVC) como estratégia de inovação das empresas. Isso cria alternativas para geração de inovações mais ousadas, insere um grande volume de recursos de investimento no ecossistema e consolida um novo mecanismo de inovação para startups e corporações.
Inovação corporativa
Além do aumento de CVCs, há mudanças importantes na inovação corporativa. Em decorrência disso, a Troposlab organizou uma imersão consultando mais de 60 executivos de 47 empresas para apreender essas transformações e identificar desafios.
Por ora, vale dizer que a inovação está amadurecendo nas empresas que começaram mais cedo. Mas a instabilidade política e econômica afeta o mundo corporativo, isso faz com que a inovação seja realizada por times mais enxutos, focados em horizontes mais curtos e de atuação mais flexível.
Outro fato importante é a chegada da maioria tardia no mercado da inovação. Empresas que começaram recentemente a inovar de maneira estratégica encontraram o mercado mais profissionalizado para responder aos desafios junto a elas.
Plano de neoindustrialização e fomento
O lançamento da política e do plano de trabalho da neoindustrialização é um fato muito interessante para a inovação brasileira. Primeiramente porque há um projeto descrito ao qual podemos opinar. E, apesar de muitos problemas, o plano endereça desafios reais da indústria e direciona ações e recursos de fomento.
Com isso, as empresas e instituições têm uma oportunidade extraordinária de aumentar o nível de ousadia das estratégias de fomento e inovação.
Os destaques de 2024 certamente nos fazem avançar. Mas ainda precisamos considerar alguns desafios importantes.
Principais desafios
Os contratempos são variados. Entretanto, a fim de convergir desafios de competitividade e inovação, destacamos três pontos centrais.
- Infraestrutura básica e de conectividade: esse tem sido um gargalo para projetos inovadores neste país continental. A falta de infraestrutura e conectividade afeta a adoção de novas tecnologias, a capacidade de desenvolver soluções (para áreas mais remotas com atividades agrícolas, por exemplo) e nossa competitividade.
- Educação e educação continuada: não é possível inovar e sermos mais competitivos sem pessoas bem-formadas com habilidades técnicas e comportamentais desenvolvidas. Além disso, a educação continuada precisa ser sistemática para que, dentro das empresas, ocorra a apropriação de novas tecnologias e métodos. Isso gera inovação, novas estratégias e ganho de competitividade.
- Ambiente de negócios saudável: um ambiente com menos burocracia e complexidade na tributação, além de mais segurança jurídica, estimula os investimentos e a criação de novos negócios.
Perspectivas para 2025
Inteligência artificial, fomento governamental, quantidade de empresas inovando e diversidade na inovação corporativa e inovação no setor público. Confira quais são as apostas da Troposlab para 2025.
- As discussões éticas sobre inteligência artificial já estão avançando. Isso tende a trazer um ambiente favorável para as corporações aplicarem a tecnologia e investirem em novos negócios.
- Fomento governamental, recursos direcionados a temas de interesse da indústria e o amadurecimento de empresas, startups e Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) tendem a acelerar o desenvolvimento de inovações mais ousadas.
- 2025 será um ano com mais, muito mais, empresas inovando, mesmo que com estratégias incipientes.
- Com leis de inovação implementadas em vários estados e municípios e criação dos primeiros sand boxes regulatórios, o setor público tem mecanismos para atuar e inovar nas estratégias públicas. Esse mercado tende a ser interessante para empreendedores, que encontram cada vez mais programas de aproximação.
- A inovação corporativa pode ficar mais diversa, criando mais e mais estratégias para realizar a inovação internamente ou de forma aberta. Essa diversidade de estratégias pode vir da maturidade e foco ou dos iniciantes abertos às novas estratégias oferecidas pelo mercado.
Conclusão
A conjuntura brasileira para a inovação, em 2024, demonstrou avanços significativos e desafios que ainda limitam o pleno potencial do ecossistema. A articulação entre diferentes atores e a promoção de eventos importantes indicam um caminho promissor. Já questões estruturais, como infraestrutura e educação, continuam a demandar atenção estratégica. Esse equilíbrio entre progresso e obstáculos reforça a importância de esforços coordenados para transformar projetos em resultados concretos.
A perspectiva para 2025 é de continuidade nos avanços, com destaque para a aplicação de inteligência artificial, fortalecimento de políticas públicas e diversificação das estratégias corporativas. A maturidade de iniciativas pioneiras e a entrada de novos participantes indicam um ambiente mais dinâmico e capaz de fomentar soluções criativas..
.A construção de um ecossistema robusto e colaborativo, que integre atores públicos e privados, é importante para aproveitar as oportunidades. A aposta em estratégias ousadas e diversificadas definirá o alcance dos próximos avanços.