EDUCAÇÃO E EMPREENDEDORISMO

O que você faz da vida hoje? Qual a sua trajetória até aqui?

Será que a trajetória do seu filho ou neto será parecida com a sua?

Existem vários pesquisadores questionando os métodos de aprendizado que temos hoje, como quase tudo em meio a revolução digital que estamos enfrentando será reinventada. E não sou eu que estou falando isso, pesquisadores do mundo inteiro tentam criar novos formatos de educação.

Uma das principais mentes liderando esse processo é o britânico Sir Ken Robinson, já ouviu falar dele? Ele é o protagonista de alguns dos vídeos do TED (plataforma de vídeos inspiradores) mais vistos da história.

Esse post mesmo é inspirado em um dos vídeos dele:

Entre as várias frases clássicas de Robinson, está a comparação feita abaixo. Ele analisa de onde surgiram os formatos educacionais vigentes hoje na maior parte de mundo (escolas, universidades, etc).

Estudiosos de história acreditam que o conceito de escola (unir em um local separado um grupo de estudantes para aprendizagem) surgiu na antiguidade clássica. Em algumas culturas as escolas surgiram associadas aos militares de cada cultura. Em outras, surgiram associadas aos clérigos. Independente da cultura, todas seguiam preceitos comuns a esses dois grupos (militares e religiosos):

  1. Hierarquia
  2. Mais certezas do que dúvidas
  3. Processos e dogmas bem consolidados

Isso trouxe a nossa educação um conceito muito claro, difundido ao longo dos anos e presente até hoje em nossas escolas de certo e errado. As escolas ensinam o caminho correto e todos os outros são errados.

As universidades por outro lado, seguiram um caminho um pouco diferente. As universidades como local de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, existem a milhares de anos. Alguns historiadores acreditam que a escola de escribas sumérica Eduba, criada por volta 3.500 a.C., seja a primeira universidade, outros acreditam que a universidade de Karueein, 859 d.C. seja a primeira seguindo o modelo moderno.

Independente da origem, foi na Revolução Industrial que as universidades passaram a ter um papel importante não só de desenvolvimento tecnológico, mas também de formação de mão de obra. Com o boom de desenvolvimento causado pela Revolução industrial, as universidades se tornaram imprescindíveis para formar os médicos, engenheiros, arquitetos, advogados, biólogos, professores e tantas outras profissões. E seguem uma estrutura similar desde então.

Imagine como funciona uma fábrica.

As nossas escolas e universidades ainda trazem vários elementos que são herança das fábricas.

  1. O início de final de aulas são marcados por sirenes, assim como o início e término de turnos de uma fábrica
  2. Os conteúdos são separados em matérias que muitas vezes não conversam entre si. Assim como as várias etapas de um processo fabril são separadas.
  3. O produto (as crianças e jovens formados) são separados em bateladas como produtos. Separados principalmente pela sua “data de fabricação” (idade).

Esses pontos fizeram muito sentido na origem, mas hoje o nosso conhecimento avançou a ponto de sabermos que nem todos aprendem da mesma maneira. Alguns tem mais facilidade em aprender de manhã, outros a tarde, outros em grupos, outros individualmente e assim por diante. Da mesma forma, no mundo real, os problemas que precisamos resolver precisam de conhecimento de diversas matérias combinados (algo que em geral não aprendemos na nossa formação).

O efeito que isso causa na nossa educação é que acabamos dividindo a nossa sociedade em dois grandes grupos. Acadêmicos e não acadêmicos. Pessoas inteligentes e pessoas não inteligentes. Entendemos que serão bem sucedidos aqueles que seguiram o caminho acadêmico, quase colocando os pós-doc no topo da sociedade.

A falha nesse caminho é porque os elementos que determinarão o sucesso ou não de alguém, não são apenas aqueles medidos academicamente.

Por exemplo, os testes de inteligência mais difundidos são os famosos testes de QI. Esse tipo de teste é muito bom para medir 3 tipos de inteligência ou aptidão:

  1. Inteligência lógico matemática – capacidade de fazer contas, entender lógicas pré-determinadas e racionais
  2. Inteligência linguística – capacidade de se expressar, contar histórias, etc
  3. Inteligência espacial – capacidade de entender formas geométricas, mapas, direção, etc

No entanto, hoje sabemos que existem vários tipos de inteligência. A chamada teoria das múltiplas inteligências acredita que além desses três tipos existem pelo menos mais 6 tipos de inteligência.

Imagine a inteligência musical por exemplo, alguns conseguem aprender a tocar instrumentos musicais só de ouvido, outros (como eu) padecerão sem conseguir batucar uma caixinha de fósforo no ritmo.

Atletas e dançarinos por exemplo, possuem inteligência corporal-cinestésica acima da média, por isso conseguem fazer movimentos impossíveis aos olhos de quem assiste embasbacado pela televisão.

Trazendo para o lado de empreendedorismo, existe um tipo de inteligência (Interpessoal) que é fundamental para o empreendedor.

A inteligência Interpessoal é a habilidade de entender sentimentos e motivações das outras pessoas. Imagine o valor disso para quem precisa 24 horas por dia entender os seus clientes e transformar as demandas e motivações em produtos. Ou para quem precisa motivar um grupo de pessoas a trabalhar por várias horas por dia em um negócio de risco ainda não validado e sem a certeza que existirá pagamento no final do mês.

O ponto é que esses outros tipos de inteligência (incluindo a interpessoal) não são ensinadas, estimuladas e avaliadas no nosso sistema educacional.

Seja para abrir o próprio negócio, seja para se adequar ao novo momento do sistema de trabalho, todos precisamos nos tornar empreendedores. Seja de um negócio próprio seja do negócio de um terceiro, como intraempreendedor de uma grande empresa por exemplo.

E uma das características fundamentais de um empreendedor é a visão diferenciada sobre os problemas que estão na frente de todos e não notamos.

A base dessa visão diferenciada (criatividade) é um conceito chamado pensamento divergente (em inglês divergent thinking).

Alguns elementos que fazem parte da nossa formação vão no sentido contrário do pensamento divergente:

1- Aprendemos que para toda pergunta existe uma resposta correta (que está no final do livro).

Imagine o caso da prova do ENEM que perguntava qual a função do esqueleto. O aluno responde: “Derrotar o He-man”. A resposta dele está correta? Com certeza não foi a resposta esperada por quem elaborou a prova, mas nem por isso deixa de estar correta.

2- Aprendemos a pensar de forma linear (como se tudo seguisse um único processo lógico) ou de forma convergente (como se tudo apontasse para o mesmo caminho).

No entanto, algumas coisas seguem padrões aleatórios ou divergentes. No mundo de inovação e empreendedorismo incentiva-se que as pessoas saiam da caixa, olhem para outros mercados, procurem ver fora dos padrões para enxergar novas possibilidades.

3- Aprendemos a resolver tudo sozinhos

Dentro do ambiente de aprendizado consultar o colega é chamado de cola. Dentro do mundo de negócios é chamado de benchmarking ou colaboração.

Para entender melhor o que é pensamento divergente, os pesquisadores que cunharam o termo propuseram um teste. O objetivo era saber quantos “gênios” dentro do conceito de pensamento divergente existiam.

No experimento, eles davam para os participantes do teste um objeto comum como um clips de papel e pediam para os participantes pensarem no máximo de usos possíveis para aquele objeto.

Descobriram que uma pessoa normal conseguia pensar de 10-15 usos para o objeto. Um gênio conseguira pensar em mais de 200 usos.

Mas como eles fazem isso?

Eles abstraem o clips como conhecemos e pensam em usos imaginando que o clips pode ter 2 metros de altura, ser de borracha ou soltar raios lasers por exemplo.

Qual o percentual da população de gênios que existem?

1%? 5%? 50%?

Eles fizeram o teste. Mas o teste feito foi com um grupo bem específico de pessoas.

Crianças do jardim de infância

Qual a porcentagem nesse teste? A mesma da população em geral? Maior? Menor?

Bem, o teste encontrou 98% de “gênios”.

Até ai nenhuma surpresa, crianças são super criativas mesmo. Mas eles refizeram o teste com crianças um pouco mais velhas (8-10 anos) e depois com adolescentes (13-15 anos).

O que você acha que aconteceu com os 98% de “gênios”?

É claro que essa porcentagem diminuiu. Mas porque isso aconteceu?

A medida que crescemos somos educados, começamos a padronizar a nossa forma de pensar. e isso nos tira a criatividade.

Se você quer empreender, ter uma visão diferente do mundo, você precisa exercitar o pensamento divergente,

A boa notícia é que você provavelmente está nos 98% que já tinha essa característica forte quando tinha 5 anos de idade. Portanto você só precisa lembrar de como fazer isso e exercitar.

Isso sozinho não garante o seu sucesso, mas com certeza já te dá uma boa vantagem na corrida.

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Atuo no mundo da inovação desde 2008. Já atuei em incubadora, consultoria e aceleradora, acelerando mais de 900 startups. Sou formado em Ciências Biológicas e Especialista em Gestão, e por isso gosto de misturar mundos diferentes para trazer mais inovação para o meu dia-a-dia. Coordeno os programas da Troposlab e crio novas metodologias de aceleração, atuando diretamente com mais de 50 grandes empresas. Além disso, tenho um lado nerd (ficção científica, heróis, histórias de aventura, etc).
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