Dois empreendedores se reunem porque enxergaram um potencial de mercado fantástico em um mercado que ambos atuam. Um deles é muito bom com vendas e o outro entende de gestão como poucos. Logo se reunem e começam a pensar os seus produtos. Mas há um problema: na hora de desenvolver o produto chegam a conclusão que é um software a melhor opção e nenhum dos dois sabe programar.
Procuram uma fábrica de software e descobrem que construir um software é mais caro do que haviam imaginado. Como são bons negociadores, conseguem convencer o dono da fábrica de software que o negócio possui um potencial muito bom e por isso o convencem a elaboração de uma permuta, o percentual de 5% da startup pelo desenvolvimento completo do software.
No final, ambos os lados apertam as mãos e saem felizes.
Mas será que foi um bom negócio para ambos?
Ao longo dos anos vi várias situações de empreendedores que cederam participações das suas startups por diversas razões:
- Troca por desenvolvimento de software;
- Troca por serviços complexos como assessoria jurídica;
- Troca por mentorias, conexões, etc;
- Troca por espaços para trabalhar.
Tudo isso por uma única razão: no início os empreendedores não possuem recursos e abrem mão da única coisa que enxergam como valor para troca por esses bens e serviços.
E repito minha pergunta: será que isso é um bom negócio?
Primeiro é preciso entender quando o percentual de uma startup possui valor. Um percentual tem valor em dois cenários: quando há distribuição de lucro entre sócios e quando há a venda para um terceiro ou para a própria empresa.
A maioria das startups não trabalha durante os primeiros anos com a possibilidade de distribuição de lucros, ainda mais com sócios não executivos, ou seja, sócios que não estão no dia a dia do negócio.
Portanto, sobra a segunda opção – venda do percentual da startup para um terceiro ou para a própria empresa quando há uma valorização.
Nesse caso, vamos imaginar as duas situações:
1- A startup dá muito certo, cresce e se valoriza várias vezes.
Nesse caso, para realmente ganhar dinheiro é necessário passar por algumas rodadas de investimento com investidores anjo, fundos de investimento e afins.
Esses públicos vêem com muito maus olhos a presença de sócios não atuantes no quadro societário. Caso a sua startup seja muito boa, isso pode ser relevado, mas caso ela esteja próxima a outras parecidas, esse pode ser o fator que impedirá o seu investimento.
Além disso, caso a startup abuse dessa prática, fazendo várias vezes e/ou tenha necessidade de algumas rodadas de investidores ainda no estágio inicial (aceleradoras, investidores anjo, fundos seed) o empreendedor corre o risco de se diluir demais e com isso afastar investidores de estágios mais avançados.
Por fim, caso nada disso atrapalhe e o seu negócio realmente tenha sucesso, você descobrirá que pagou alguns milhões para o desenvolvimento do software, para a assessoria jurídica ou para o coworking que você fez a cessão do percentual da startup.
2- A startup não consegue crescer o tanto que você imaginava
Nesse caso, a sua startup não possui interesse para os investidores e por isso não existirá a multiplicação esperada pelo seu novo “sócio” que prestou o serviço de graça.
Provavelmente ele não tinha total consciência do risco que estava correndo ao fazer esse tipo de “investimento”, diferente de uma aceleradora ou investidor anjo, que entende que a grande possibilidade é que o negócio infelizmente não dê certo.
Como ele provavelmente não entende essa lógica, nessa hora ele irá fazer de tudo para recuperar o prejuízo. Talvez ele consiga te convencer a recomprar a parte dele e a startup terá que arcar com um custo acrescido de juros e correção. Ou então vocês não chegarão em um acordo e você terá um sócio insatisfeito com você e todas as repercussões dessa relação.
Esse cenário parece bem ruim, não é mesmo? Mas existe sempre a possibilidade de tudo dar certo e todo mundo sair ganhando como colocamos na primeira situação, certo?
Bem, aí que vem a má notícia.
Se você precisou recorrer a esse tipo de acordo para o seu negócio conseguir prosperar, o mais provável é que você ainda não tenha o time ideal para que a sua startup tenha sucesso. E assim, as possibilidades dela crescer diminuem absurdamente.
Portanto, salvo raras exceções, é mais caro e arriscado para ambos os lados fazer esse tipo de aposta no início da startup. Preocupe-se em começar um negócio que gere caixa para poder arcar com os custos e vá atrás de investimento apenas para dar os saltos que o seu negócio precisa. E não somente para sobreviver.