A Tesla tem crescido absurdamente nos últimos anos e foi responsável em 2020 por catapultar o Elon Musk ao posto de homem mais rico do mundo ultrapassando Jeff Bezos, fundador da Amazon.
A empresa, que começou em 2003, só foi ter lucro pela primeira vez em 2013 e, mesmo hoje, ainda possui uma receita bem inferior a vários de seus concorrentes. Em 2019, por exemplo, vendeu pouco mais de 192 mil veículos nos Estados Unidos, contra mais de 2 milhões da Toyota.
Mas, em contrapartida, o seu valor de mercado seguiu uma curva de crescimento diferente:
- Já em 2016 estreou na lista das marcas automotivas mais valiosas do mundo, com um valor de mercado de US$4,4 bilhões.
- Em Outubro de 2019 ultrapassou a General Motors e se tornou a montadora mais valiosa dos EUA.
- Em Janeiro de 2020 superou os US$100 bilhões de valor de mercado, ultrapassando a Ford e a General Motors somadas.
- Em Junho de 2020 já ultrapassou a Toyota e se tornou a maior montadora do mundo valendo US$183 bilhões.
- Em Dezembro fechou o ano valendo US$640 bilhões. O dobro da Toyota (US$214 bilhões) e da Volkswagen (US$98 bilhões) juntas.
- Já no início de janeiro de 2021, ultrapassou o valor de US$800 bilhões, ultrapassando o Facebook, se tornando a 5ª maior empresa do mundo e valendo mais do que as 10 maiores montadoras juntas.
Mas afinal de contas, porque a Tesla vale tanto, mesmo tendo um faturamento absurdamente menor do que as montadoras tradicionais?
Carros elétricos
Em primeiro lugar, é preciso entender a pressão pela mudança na matriz energética no mundo. A dependência do petróleo concentra poder na mão dos detentores das reservas e nem sempre isso é bom para as maiores economias. Além disso, existe uma crescente pressão ambiental por soluções mais sustentáveis e hoje se enxerga o carro elétrico como uma melhor solução.
Carro como um hardware não como um veículo
Uma das maiores revoluções vividas recentemente foi a incorporação do modelo de vendas de produtos que melhoram com o tempo, pois se atualizam.
Olhe o seu celular, por exemplo, talvez ele ganho alguma nova funcionalidade desde que você o comprou? Que podem ir de melhorias na câmera a novos aplicativos que ainda não tínhamos. O seu celular passou a transferir dinheiro para outras pessoas de graça. Isso aconteceu por uma atualização de uma outra instituição (no caso, o Banco Central e os bancos brasileiros), mas o produto que você comprou passou a ter uma nova funcionalidade.
É isso que acontece com os carros da Tesla hoje, eles ganham novas funcionalidades com atualizações de software. Recentemente a autonomia dos carros aumentou com uma dessas atualizações.
Que outras montadoras fazem isso?
Receita futura
No fim das contas, o mercado de investidores precifica o que a empresa tem potencial de valer no futuro e não o que ela vale hoje. Esses diferenciais estão longe do que as outras empresas apresentam hoje, portanto o mercado prevê um crescimento cada vez maior de empresas como a Tesla e por isso paga mais hoje.
Mas voltando a pergunta inicial desse texto: o que a Tesla nos ensina sobre essa nova fase das startups?
Existe sempre uma grande discussão de que empresas são classificadas como startups ou não. Quem vê de fora talvez enxergue a Tesla apenas como uma montadora e, portanto, um negócio tradicional que não estaria contido no universo das startups.
Entenda as diferenças
-
As montadoras convencionais:
- Vendem um produto. Que a partir do momento que você compra, não muda, não evolui.
- Possuem praticamente um único modelo de receita, a venda do “hardware”, o carro.
- O potencial de receita cresce linearmente.
-
A Tesla:
- Vendem uma plataforma. Onde você, com certeza, além do hardware pode comprar funcionalidades e customizações.
- Possuem potencial para modelos de venda única e recorrente, afinal de contas, pagar para ter um carro sempre atualizado faz sentido.
- O potencial de receita cresce exponencialmente.
Ou seja, empresas como a Tesla são tão startups como muitos consideram a Apple, por exemplo.
Com essa nova era de 5G, todos os produtos terão o potencial de se transformar em plataformas para serviços. Eletrodomésticos, carros, roupas, móveis podem virar hardwares com conexão a internet e, portanto, plataformas para os serviços que precisaríamos deles, e não mais produtos estáticos e com funcionalidades únicas e fixas.
Da mesma forma que o seu carro consegue aprender o caminho de casa, a sua geladeira irá aprender a te avisar sobre o que está acabando ou te lembrar da sua dieta.
Se o seu produto não possui software (seu ou de terceiros), repense se ele continuará sendo necessário no futuro.
Gostou do texto? Não deixe de compartilhar e comentar. E se quiser falar mais profundamente sobre algum tema que abordamos aqui, escreve pra gente.