Inovação está associada à implantação com sucesso de novas ideias. Essa definição simples e extremamente objetiva é bem aceita por vários especialistas no assunto. Ocorre que muita gente trata essa definição de maneira equivocada. Para alguns, se inovação é a implantação de algo novo e com sucesso, logo o que importa mesmo é muito esforço, força de vontade, empenho, luta e garra, entre tantos outros sinônimos. Há também aqueles que discordam que arregaçar as mangas seja o mais importante. Tais pessoas entendem simplesmente que um projeto de inovação alcançará o sucesso quando forem adotados técnicas, ferramentas e métodos modernos de gestão de projetos, como muitos importantes players do mercado fazem. Ledo engano.
Então o esforço não é importante e nem mesmo a adoção dos melhores métodos, técnicas e ferramentas?
Claro que é importante. Entretanto, tudo isso, será de pouca utilidade se o gestor de inovação não entender conceitos básicos, não ser capaz de estabelecer sólidas premissas, não construir relações causais bem fundamentadas e não entender sobre aspectos metodológicos mais robustos. Nessa hora, entender de teoria é o que vai fazer a diferença.
Mas para que um gestor de inovação precisa entender de teoria?
Eu sou um gestor de inovação de uma empresa moderna, sou uma pessoa prática e com um histórico de resultados concretos obtidos ao longo dos últimos anos, sem nunca ter me preocupado em saber nada de teoria.
Você muito provavelmente poderia ter alcançado os mesmos resultados se esforçando menos ou ter alcançado resultados ainda mais significativos com o mesmo esforço. A teoria, dito de uma maneira bem ampla, nos ajuda, por exemplo, a explicar de maneira precisa e clara como e por que um determinado fenômeno ocorre. Além disso, o mais apropriado mesmo é tratarmos teoria no plural: teorias. Pois, dificilmente, sobretudo no campo da gestão de inovação, assim como em várias áreas, não há uma única teoria capaz de explicar tudo.
Por exemplo, já se sabe que muitos projetos de inovação morrem ou fracassam – fenômeno – por estarem expostos a um risco muito maior do que os projetos tradicionais. O bom gestor de inovação que procura usar as teorias a seu favor possuirá um arsenal de elementos para tentar entender como então reduzir a quantidade de projetos de inovação que morrem ou fracassam.
O princípio é simples. Se o gestor fizer uso de métodos, técnicas e ferramentas apropriados, bem como se esforçar apropriadamente, os projetos tendem a darem certo. Porém se, ao mesmo tempo, ele usar também de forma inteligente os elementos apropriados que as teorias oferecem, ele pode ser ainda muito mais eficiente. Dito de outro modo, menos projetos irão morrer ou fracassar.
O gestor de inovação não quer ser reconhecido pelo volume de projetos que não deram certo, e sim justamente pelo contrário.
Então, como é que a teoria pode ajudar um gestor de inovação?
De várias maneiras. Primeiro, como existe um conjunto expressivo de teorias, o gestor de inovação precisa estar familiarizado com algumas delas. Ninguém sabe de tudo. Então, não precisa se preocupar se algumas das teorias foram desconhecidas inicialmente.
Por exemplo, ao se conhecer sobre Teoria Organizacional, um gestor de inovação entenderá melhor sobre como obter recursos (pessoas, por exemplo) de outras áreas que são necessários a seus projetos. Muitos projetos morrem simplesmente porque faltou uma expertise específica técnica ou comercial que, muitas vezes, existe dentro da própria empresa, mas que infelizmente não pôde se envolver no tempo ou na forma certa naquele projeto. É comum que as empresas gastem um bom dinheiro contratando uma pessoa de fora ou comprando alguma tecnologia, sendo que haviam soluções e conhecimentos internos tão bons quanto ou até melhores. Porém, o gestor de inovação, pouco familiarizado com os princípios da Teoria Organizacional, nem sempre é hábil o suficiente em integrar recursos humanos internos em seus projetos. A Teoria Organizacional, por exemplo, ensina como um gestor deve assumir o papel de integrador de recursos, algo difícil de ser realizado na prática.
Há muitos gestores que são fascinados com o modelo do “copiar e colar”. Quando não sabem o que fazer, acham erroneamente que o melhor mesmo é imitar o que concorrentes ou empresas referências fazem. Gasta-se dinheiro em excesso, e tempo das pessoas, simplesmente tentando fazer o que deu certo em outro lugar, porém alcançando resultados medíocres internamente. Quando o gestor de inovação conhece ao menos um pouco sobre Teoria Contingencial, ele entende que o “copiar e colar” funciona em circunstâncias muito específicas, que não necessariamente irão se repetir em todos os projetos. Às vezes as circunstâncias são as mesmas e às vezes não. Então, como saber quando serão e quando não serão as mesmas? Fácil. Procure entender um pouco mais sobre a Teoria Contingencial.
O mesmo raciocínio é válido para um conjunto expressivo de outras teorias, como a Teoria de Redes. Hoje é muito comum falarmos em ecossistema de inovação. Um dos grandes desafios de um gestor de inovação, a fim de promover a interação entre diferentes atores dentro de um ecossistema, é construir laços duradouros e que gerem significativo valor para todos os envolvidos. Não há receita de bolo. Porém, quando o gestor conhece sobre Teoria de Redes, ele tem mais chances de estabelecer esses laços.
Na área de gestão de inovação há ainda um conjunto de conceitos e abordagens validados e úteis que não necessariamente são entendidos como um teoria, mas que contribuem fortemente para as melhorias de resultados das empresas. Esses conceitos e abordagens variam significativamente, tais como ambidestria, capacitações dinâmicas, capacidade absortiva, gestão de portfólio e gestão de incertezas. Eles são bem fundamentados e possuem grande capacidade de aplicação por parte dos gestores de inovação.
É possível entender e aplicar essas teorias fora do contexto acadêmico?
É bem verdade que quem já fez ou faz um mestrado ou doutorado pode até ter uma maior familiaridade com teorias, porém a aplicação delas é fortemente dependente das pessoas que estão nas empresas. É como diz aquela velha frase: “nada mais prático do que uma boa teoria”.
Além disso, muita coisa tem mudado nos últimos anos. Atualmente, existe uma preocupação de muitas empresas em ampliar a contratação de mestres e doutores. Basta ver os setores que mais têm crescido nos últimos anos. Esse crescimento, em parte, é explicado pela incorporação de novos conhecimentos ou tecnologias em produtos, processos e, mais recentemente, em modelos de negócios. Sem pessoas com alta qualificação, capazes de aplicar apropriadamente diferentes teorias, tal crescimento dificilmente ocorreria.
O que um bom gestor de inovação deve fazer?
Não há uma regra mágica que vai apontar tudo o que deve ser feito. Alguns passos são necessários, mas podem variar, por exemplo, conforme o tipo de empresa que a pessoa trabalha, as características principais dos projetos de inovação que gerencia ou até mesmo conforme o próprio perfil do gestor. Basicamente, é bom começar lendo um pouco mais sobre revistas técnicas sobre gestão da inovação – R&D Management, Journal of Product Innovation Management (JPIM) e California Management Review são algumas das várias ótimas revistas que existem. Tem farto material disponível na internet. Um passo posterior é procurar por grupos de discussão, tem muita coisa útil no LinkedIn, por exemplo. Assine também newsletters de empresas referências e olhe os vários textos que são publicados nos blogs dessas empresas.
Todas essas dicas são de graça. Porém, é preciso dedicar tempo para procurar e filtrar o que pode ser mais relevante. Depois disso, aí sim vale a pena procurar um especialista com experiência no mercado para discutir as particularidades de sua empresa e de seus projetos. O que gera valor é quando tanto os especialistas quanto os gestores conseguem discutir em um bom nível de profundidade, quando ambos, por exemplo, entendem razoavelmente teorias que podem de fato contribuir para o alcance de resultados mais relevantes pelas empresas.