Ao longo dos últimos anos já escutei milhares de pitches e existe um tipo de empreendedor bem característico: o empreendedor começa seu pitch, explica o problema que resolve e a sua solução, fala de um mercado imenso, ainda inexplorado e separa um slide específico para ressaltar que não tem concorrentes, não achou no mercado ninguém que faça o mesmo que ele e por isso tem uma oportunidade incrível que os avaliadores ou investidores deveriam aproveitar.
O que ele não sabe é do problema que existe com os negócios que não tem concorrentes.
Na grande maioria dos casos, depois de 2 ou 3 perguntas, ou de uma simples busca no Google, descobrimos que o negócio tem sim concorrentes. O empreendedor que não sabia da existência deles. Nesse caso, avaliamos mal o negócio, não por ter concorrentes, mas pelos empreendedores não saberem da existência deles.
Em outros casos, descobre-se que realmente não há concorrentes diretos (às vezes não no Brasil ou naquele mercado), mas existem dezenas de concorrentes indiretos. Toda e qualquer solução que resolva o mesmo problema que você é um concorrente indireto (ou uma solução substituta, se preferir). Nesse caso, o Netflix é um concorrente da TV a cabo, já que mesmo tendo soluções completamente diferentes, ambos estão resolvendo o mesmo problema do cliente.
Um terceiro caso, é quando o negócio realmente não tem concorrentes. É algo tão inovador que seria forçado compará-lo com outros players da mesma cadeia. Em situações como essa o primeiro alerta que aparece na cabeça do avaliador / investidor é o seguinte: “Por que ninguém explorou esse mercado ainda?”
Muitas vezes a resposta é exatamente porque não existe uma oportunidade tão boa naquele mercado.
Por fim, na grande minoria dos casos, acontece exatamente o que o empreendedor realmente queria dizer com aquele slide em que ressalta que a empresa não tem concorrentes. O negócio é realmente inovador, resolveu um problema urgente de um mercado grande ou crescente, de uma maneira que ninguém havia feito antes e por isso está navegando em um oceano azul, ou seja, em um mercado sem concorrentes.
Mas a discussão de concorrência não acaba por aí. Por mais ilógico que seja, mesmo que você tenha encontrado esse oceano azul, o mais saudável para o seu negócio será que surjam outros concorrentes. Primeiro porque eles validam que existe uma oportunidade de negócio relevante, depois porque eles ajudam na evangelização de novos clientes e por fim porque eles te forçam a continuar inovando.
Os grandes inovadores sempre tiveram concorrentes no seu calcanhar que os empurravam para frente.
- Apple vs Microsoft (hoje talvez o Google vs Apple nos smartphones)
- Ford vs Ferrari (veja o filme com esse mesmo nome e entenda a concorrência)
- Facebook vs Google
- P&G vs Unilever
E não é só no meio das empresas:
- Senna vs Prost
- Messi vs Cristiano Ronaldo
- Nadal vs Federer vs Djokovic
Portanto, para que seu negócio vá para frente e continue inovando, procure concorrentes. Mas só não deixe de estar à frente deles sempre.
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