Momentos de crise são bons para evidenciar os problemas de determinada região geográfica ou setor. Estamos vendo vários problemas generalizados ou setoriais no Brasil. Vários pontos poderiam ser levantados em setores diferentes, mas exemplificar a nossa discussão vamos citar 3:
- O setor da saúde, grande foco dos noticiários, sofre com problemas de má gestão, baixo número de profissionais, baixa valorização dos “não médicos” do setor (enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos, etc), escassez de insumos e equipamentos, entre vários outros.
- O setor de varejo no segmento vestuário sempre foi dos mais fracos no Brasil em relação ao e-commerce. Problemas como a despadronização de medidas (o número X em lojas diferentes possui tamanhos diferentes), a dificuldade de provar as roupas e a logística de devolução / troca foram entraves para esse setor desde sempre.
- O setor automotivo sempre foi dependente da demanda crescente por veículos, as grandes empresas do setor sempre se posicionaram mais como montadoras do que empresas do setor de mobilidade e desenharam modelos de negócios pouco sustentáveis a momentos de poucas vendas.
Todos esses problemas dos setores acima estão evidenciados hoje durante a crise e tem trazido noites de insônia para os líderes e liderados de empresas desses setores. Por mais que esses problemas estejam mais intensos e causando efeitos negativos por conta do novo contexto, eles sempre existiram e sempre trouxeram problemas financeiros para as empresas desse setor. O ponto é que esses problemas estavam mascarados. A crise não causou esses problemas, ela apenas os tornou mais evidentes.
Mas o que isso tem a ver com os empreendedores?
Empreendedores tem a capacidade de enxergar esses problemas antes das grandes empresas e pensarem em soluções para eles. Hoje esses problemas estão escancarados para todos e todos estão sedentos por soluções. Todo tipo de empresa agora está tentando aproveitar as oportunidades dessas demandas não atendidas.
- Como de uma hora para outra todos os hospitais estão se reinventando, empresas de software de gestão do mundo inteiro estão batendo na porta dos hospitais oferecendo suas soluções. Mas será que as soluções de gestão para os hospitais são as mesmas que funcionam para qualquer outra empresas? Ou alguém com experiência no setor poderia desenvolver soluções customizadas e que resolvesse melhor as demandas do dia-a-dia?
- Como o setor de vestuário teve seu principal canal de vendas (lojas físicas) fechado por tempo indeterminado, marketplaces genéricos tem recebido cadastros diversos de novos vendedores ou fábricas de softwares tem oferecido soluções de montar e-commerces em tempo recorde. Mas será que alguém que entendesse de vestuário não poderia pensar em funcionalidades para manequim online customizado gerado através de fotos da pessoa ou algo do tipo?
- Como o setor automotivo fechou as suas fábricas, empresas de setores diversos tem oferecido soluções de redução de custo para as grandes montadoras e seus fornecedores. Mas será que alguém com experiência no setor não saberia sugerir melhor quais adaptações poderiam ser feitas no maquinário para alterações no sistema de produção?
É claro que empreendedores que vieram daquela área teriam soluções mais aderentes ao setor e assim trariam mais resultados. E podemos ir além, empreendedores com experiência nesse setor provavelmente já viram esses problemas antes da crise chegar e estão hoje com soluções mais prontas.
Muitos empreendedores tem dúvidas na hora de escolher em que eles poderiam empreender. A resposta é mais óbvia do que imaginamos. Empreenda na área que você e/ou os seus sócios conhecem. Além do conhecimento dos problemas da área, você provavelmente possui rede de contatos. Contatos = potenciais clientes ou parceiros. O seu histórico e o seu currículo viram histórico da empresa que você está criando. E os seus colegas ou antigos empregadores viram usuários teste.
Caso você seja de uma área transversal com um conhecimento que sirva para várias áreas diferentes (gestão, desenvolvimento de softwares, marketing, etc) procure sócios que conheçam de um mercado. Talvez você vá saber como desenvolver o aplicativo, mas é o seu sócio que conhecerá o cliente para guiar o desenvolvimento da solução.
Por fim, vale seguir uma frase já batida mas ainda importante: pense global, aja local. Comece no quintal de casa, no mercado que você conhece, na área que você tem experiência. Isso é fundamental para você conseguir atingir os mercados mundiais.