*Aviso! Este texto contem spoiler da obra!
Cem anos de Solidão, obra aclamada do ganhador do prêmio Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez, nos traz uma história fascinante a respeito da trajetória da família Buendía. Somos apresentados, nos primeiros capítulos do livro, à história do início da formação dessa família e da cidade onde se passa o enredo, Macondo.
Um dos personagens mais memoráveis dessa primeira fase é o José Arcadio Buendía, o “homem mais empreendedor que se poderia ver na aldeia”. Sua história é marcada pelo fascínio com as engenhosidades e ciência rudimentar da época, e sua coragem para se arriscar na empreitada de diferentes ideias, por vezes malucas, para solucionar problemas do seu mundo.
A vida desse icônico personagem, retratado por Gabriel García, pode nos ajudar a discutir uma importante habilidade empreendedora: a Coragem para Riscos. É isso que trataremos neste artigo!
O risco para experimentar ideias e se desafiar
Ao decorrer da narrativa, José Arcadio Buendía se empreitou em diferentes negócios, sendo motivado pelas evoluções tecnológicas e científicas mundo afora. Ele tinha interesse em conhecê-las, principalmente entender como aplicá-las na vida cotidiana. Propôs-se a usar o ímã, a “a oitava maravilha dos sábios alquimistas da Macedônia”, para encontrar os ouros da terra. Tentou desenvolver um mecanismo a partir da lupa, “a última descoberta dos judeus de Amsterdam”, como ferramenta de batalha através da concentração dos raios solares, e a química, rudimentar à sua época, buscou usá-la, através de um laboratório altamente improvisado, para tentar duplicar as moedas da esposa.
Para o protagonista, no seu contexto desprovido de informações, conhecimentos empíricos e educação formal sobre as leis naturais do mundo, era justificado se arriscar nessas empreitadas, tendo em vista a importância que tais descobertas poderiam ter quanto à melhoria da vida de sua família e sua comunidade. O patriarca Buendía foi capaz de realizar alguns sacrifícios pessoais em prol daquilo que o motivava, que achava importante e benéfico: a aplicação dos novos conhecimentos mundo afora para ele e o seu ciclo social.
Parte da habilidade empreendedora de coragem para riscos pode ser observada nessas características. O processo de empreender e inovar exige, muitas vezes, a predisposição para se lançar em desafios e experimentar a sua solução, aberto ao erro e à possibilidade de fracasso.
Ainda, lidar com os sentimentos e pensamentos que emergem desse contexto de risco é importante para manter o empreendedor conectado à investigação de como a sua solução se aplica no mundo, o que futuramente será usado para aprimorar e potencializar a sua ideia.
No entanto, existe um componente importantíssimo dessa habilidade empreendedora que é muito necessário ter consciência e que, na história do nosso personagem, sempre foi um déficit: o cálculo para se arriscar com coragem.
A habilidade de calcular os riscos de ações
Como percebido, o personagem de que tratamos até então nesse texto se arriscava e trabalhava arduamente em soluções que não eram compatíveis ou factíveis com os problemas que ele buscava impactar: sabemos que um ímã não atrai ouro; usar lupas como armas de guerra não é tecnologicamente viável, assim como usar química rudimentar para reproduzir fórmulas de metais em estado sólido. Nesse sentido, apesar de conseguirmos compreender alguns aspectos da habilidade empreendedora de coragem para riscos, não é possível afirmar que o patriarca Buendia possuía essa habilidade em sua completude. Por quê?
O processo de empreender de fato tem, em sua essência, o risco, cenários incertos e a necessidade de coragem para se desafiar. No entanto, é importante que o risco seja minimamente calculado e planejado, que os cenários incertos sejam estudados e investigados e que a coragem para se desafiar seja acompanhada das habilidades de busca por aprendizagem, criatividade inovadora, e formação e manutenção de rede de apoio, a cargo de alguns exemplos.
Como observado, a motivação para empreender do José Arcadio Buendía nascia de sonhos grandes, e a coragem para riscos relacionada a isso faz sentido quando pensamos que se essa habilidade se encontra no pilar da Motivação. No entanto, para que possamos nos manter motivados e conectados com nossos projetos, ideias ou negócios, é necessário que calculemos os riscos de nossas ações, os impactos possíveis para esse empreendimento, para o contexto em que está inserido e para nós mesmos. Assim, conseguimos persistir e estrategizar ações que podem aumentar a probabilidade de termos sucesso, retroalimentando, assim, nosso engajamento e comportamento motivado. Mas afinal, como entender e perceber, de fato, a coragem para risco enquanto uma habilidade empreendedora?
A Coragem para Riscos
Ao contrário do que muitos acreditam, a pessoa empreendedora não é aquela que se arrisca irrestritamente ou que, até mesmo, é capaz de pôr tudo a perder e se desafiar inconsequentemente. Como dito anteriormente, é, na verdade, a pessoa que tem a habilidade de calcular os riscos que podem ser importantes e valer algo para a sua ideia, projeto ou negócio.
Essa habilidade é caracterizada por avaliar consequências, alternativas e possibilidades de maneira a ter certo controle e previsibilidade quanto aos resultados hipotetizados. Nesse sentido, uma maneira possível de desenvolver essa habilidade é avaliar quais riscos existem nas oportunidades encontradas, tanto positivas quanto negativas e buscar informações robustas a respeito delas, considerando os recursos, processos e contextos envolvidos para, assim, conseguir prever possibilidades, mesmo que minimamente, e pautar ações, arriscadas ou não, com embasamento factível. Nortear-se.
José Arcadio Buendía era fascinado pelo que surgia no mundo e como ele poderia transpor aquilo para a sua realidade e melhorar a vida dos amados habitantes de Macondo. “Estão ocorrendo coisas incríveis pelo mundo”, era o que ele dizia para persuadir a sua esposa a apoiá-lo nas suas empreitadas, por muitas vezes, malucas. Buendia possuia uma motivação poderosa para empreender e, se entrarmos com imaginação, junto desta cidade e desta família fictícia, poderíamos supor que, através de uma educação empreendedora e o desenvolvimento assertivo de comportamentos empreendedores, teórico e empiricamente embasados, este ilustre homem poderia ter feito coisas incríveis.
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