A era do “do it yourself”

Vivemos hoje um momento de revolução na história da humanidade. Uma revolução tão grande como as revoluções que vivenciamos no surgimento da agricultura (revolução neolítica) e no surgimento das indústrias (revolução industrial).

A chamada revolução digital que estamos vivendo é um momento de constantes mudanças não só nos produtos que consumimos mas em todos os aspectos da nossa vida.

Uma dessas várias mudanças é o movimento “do it yourself”.

Essa não é uma ideia nova, movimentos diversos na história da humanidade já tiveram esse elemento motivador. O punk por exemplo, que tinha como um dos principais ícones os Ramones, preconizava que você poderia começar uma banda mesmo que não soubesse tocar tão bem, o importante era se movimentar e começar a fazer algo. Se não existe ninguém que faça o som que você gosta, faça você mesmo.

No entanto, hoje o desenvolvimento tecnológico tem cada vez mais avançado para a criação de plataformas que empoderam a todos, fazendo com que seja muito mais fácil e barato produzir conteúdo, criar produtos, divulgar serviços e o que mais imaginarmos.

Veja alguns exemplos do que estou falando:

  • Plataformas de armazenamento de vídeo e softwares intuitivos de edição, permitem que qualquer um tenha o seu próprio canal de televisão, permitindo que muitos vivam disso inclusive.
  • Redes sociais específicas permitem o compartilhamento de textos, fotos, músicas, permitindo que escritores não precisem mais de jornais ou editoras de vídeo (olha eu escrevendo aqui), que fotógrafos não dependam de grandes portais que comprem suas fotos, que músicos não estejam amarrados às suas gravadoras.
  • Plataformas de edição de sites e aplicativos permitem que mesmo sem saber programar uma linha de código milhares de pessoas criem soluções digitais, resolvendo problemas do mundo, gerando receita e emprego.
  • Impressoras digitais já permitem e irão permitir cada vez mais a produção descentralizada de produtos, fazendo com que a estrutura das fábricas como conhecemos desapareça em algumas décadas.
  • Plataformas de transporte permitem que qualquer um com carteira de motorista e acesso a um veículo crie sua profissão como autônomo.
  • Plataformas de logística permitem que com pouquíssimo investimento se crie um restaurante ou uma loja, já que existem soluções estabelecidas para atração de clientes e entrega de produtos (dois gargalos para novos entrantes nesses mercados).

E tudo isso é incrível.

Mas como tudo na vida, existe um outro lado…

A mesma facilidade que permite que o músico talentoso que não tem acesso a gravadoras lance a sua música, permite que os milhares de músicos menos talentosos mas com uma rede de divulgação melhor também lancem e tenham mais sucesso.

E isso vale para todos os outros exemplos que eu coloquei acima.

O mundo mais analógico possuía algumas barreiras que tiravam do caminho as pessoas menos motivadas com o sucesso naquela área.

Não me entendam mal, o maior volume de pessoas criando, gera oportunidade para a inovação e eu sou absolutamente a favor disso.

Só estou refletindo que esse mesmo volume gera um cenário de hiper competição. Assim, cada vez mais, ter o melhor processo de venda e marketing se torna mais importante do que ter o melhor produto. E gera também distorções nos preços do mercado. Ou você acha que o seu primo que acabou de aprender a mexer em uma ferramenta de edição de vídeos irá cobrar o mesmo que as editoras e profissionais já estabelecidos no mercado cobravam anos atrás?

Independentemente dos pontos positivos e negativos que foram levantados aqui, o fato é que essa nova cultura é uma realidade hoje e tudo indica que irá aumentar consideravelmente.

Então porque refletir sobre esse assunto?

Trabalhando já há mais de 10 anos com inovação acredito fortemente que esse tipo de movimento não é algo que possa ou deva ser contido com leis, tecnologias ou pressões de mercado. Mas pode e deve ser direcionado.

  • Os criadores dessas plataformas (e de todas as outras que surgirão) podem fazer esse direcionamento, garantindo por exemplo um sistema de avaliação pela própria rede garantindo bons produtos ou serviços dentro da sua rede.
  • Os governos e instituições podem direcionar dentro dos seus territórios e/ou setores, fazendo com que a construção em massa esteja direcionada para os principais problemas e estejam todas alinhadas com a mesma estratégia de desenvolvimento.
  • As empresas podem direcionar esse o desenvolvimento de produtos e serviços de forma descentralizada dentro da sua rede de colaboradores e/ou clientes.

Acredito muito no “do it yourself”, caso contrário não estaria escrevendo esse texto, mesmo sem ter nenhuma formação que me habilite para isso. Mas acredito também, que é papel dos líderes de cada segmento, criar meios para que essa construção em massa ganhe em diversidade de ideias sem fazer com que seja muito rasa a qualidade do que é produzido.

Por |2023-05-22T12:10:56-03:0029/01/2019|RH e carreira|

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Atuo no mundo da inovação desde 2008. Já atuei em incubadora, consultoria e aceleradora, acelerando mais de 900 startups. Sou formado em Ciências Biológicas e Especialista em Gestão, e por isso gosto de misturar mundos diferentes para trazer mais inovação para o meu dia-a-dia. Coordeno os programas da Troposlab e crio novas metodologias de aceleração, atuando diretamente com mais de 50 grandes empresas. Além disso, tenho um lado nerd (ficção científica, heróis, histórias de aventura, etc).
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