Por que o open innovation não deu certo no Brasil. Ou deu?

Já ouviu falar de Open Innovation?

Open Innovation (inovação aberta) é um formato de organizar inovação onde as empresas param de tentar inovar sozinhas e começam a interagir com universidades, fornecedores, clientes e até concorrentes para gerar inovações de forma colaborativa. No fim do dia isso quer dizer: mais inovações, de forma mais rápida, de forma mais barata e gerando inovações mais disruptivas.

Lindo não é? O problema é o famoso vale da morte que existe entre universidades e empresas no Brasil.

  • De um lado existem as universidades e centros de pesquisas – lar dos melhores cérebros do Brasil – trabalham de forma heróica desenvolvendo tecnologias inovadoras mesmo sem ter nem de perto as mesmas condições de pesquisa e de trabalho dos países desenvolvidos. Quem faz pesquisa no Brasil, e principalmente, quem compete de igual para igual e é respeitado pelos seus pares internacionais, merece sem sombra de dúvidas nosso muito obrigado.
  • Do outro lado estão as empresas, que conseguem produzir e inovar em um dos países com maior taxa tributária do mundo. Conseguem trazer inovações mundiais mesmo em empresas onde as matrizes se preocupam pouco ou nada com o que acontece por aqui.

Mas por que esses dois lados heróicos, cada um à sua maneira, tem tanta dificuldade de interação? Porque cada um fala uma língua própria, confusa para o outro lado e assim tem muita dificuldade de construir algo junto. Segue alguns exemplos de como cada lado vê o mesmo mundo:

  • Pesquisadores veem a longo prazo, querem resolver os problemas do futuro e são eles que vão construir as soluções para problemas que ainda nem existem. // Por outro lado empresas são práticas, olham para os problemas de hoje, até porque precisam vender para pagar as contas.
  • Se os pesquisadores são os únicos que realmente olham para frente, por outro lado não se preocupam tanto com prazos e rapidez na pesquisa. // As empresas por sua vez, se especializam em gestão, cumprimento de prazos e adiantamento de resultados.
  • Na pesquisa o caminho é importante e o erro é uma fonte de aprendizado, valoriza-se muito a formação das pessoas no caminho. // Já na maior parte das empresas o erro é condenado, e isso faz com que as pessoas arrisquem menos, assim também erram menos e por consequência inovam menos.
  • Na pesquisa o resultado é uma consequência, o grande comprometimento é com o método científico e com o aprendizado gerado. // Já na empresa, o resultado é o objetivo (um novo produto, um aumento de receita, etc).

Mas isso quer dizer que os dois mundos nunca conversam? Claro que não. O mundo é cheio de exemplos de interações bem sucedidas gerando as grandes inovações que conhecemos hoje.

No Brasil, no entanto, essa interação ainda é bem tímida. A empresa com maior interação com a pesquisa é a Petrobras e ela faz isso porque existe uma regulamentação do setor que exige e equla, e todas as outras empresas do setor, investa parte dos lucros em pesquisa e desenvolvimento (sendo metade em parceria com universidades e/ou centros de pesquisa).

A verdade é que a visão de muitos pesquisadores é que as empresas são capitalistas prontos para roubar os seus dados, enquanto muitas empresas veem os pesquisadores como inventores malucos pesquisando sobre coisas não importantes. E essa é uma visão enraizada na nossa cultura há algumas décadas.

Mas então o Open Innovation está condenado a não funcionar no Brasil?

O que eu tenho visto nos últimos anos me leva a crer que a resposta para a pergunta acima é não. Desde 2016, tenho visto no mercado um movimento expressivo de grandes empresas investindo em programas de aceleração de startups. Você pode conhecer alguns desses programas na lista que fizemos sobre Corporate Venturing. Isso acontece devido à crise que enfrentamos no período, que acabou forçando as empresas a repensarem seus produtos, processos, fornecedores, etc.

E o que isso tem a ver com Open Innovation? TUDO. As startups assumiram um papel de levar novas tecnologias, novas ideias e novos modelos para as grandes empresas de uma maneira que as universidades e centros de pesquisa não conseguiram ainda fazer. E os pesquisadores mais propensos a formar parcerias, também tem se transformado em startups para poder aproveitar essa onda.

As startups que hoje estão no mercado, em sua grande maioria, ainda são pouco inovadoras quando se fala de tecnologia, justamente porque o nosso forte de desenvolvimento tecnológico está dentro das universidades e não nas startups. Mas a cada ano essa balança melhora para as startups.

Para onde esse cenário caminha? Eu acredito que precisamos direcionar cada vez mais para a organização de pesquisadores no formato de empreendedores de startups. Isso fará com que consigamos mudar a posição do Brasil na economia e começar finalmente a sermos produtores e não apenas consumidores de novas tecnologias.

Afinal de contas, estamos entre os países mais conectados do mundo:

E quase não geramos novas tecnologias:

Além disso, se por um lado o desemprego de mestre e doutores hoje chega a 25% (já que não existe emprego para todos eles como professores universitários e as grandes empresas não querem alguém sem “experiência”), por outro as startups têm atraído cada vez mais esse perfil. Onde, com os sócios corretos, é possível criar negócios consistentes com produtos inovadores.

Bem, o que sabemos com certeza é que o futuro será colaborativo. As empresas que não forem (colaborativas) irão morrer e quem sabe essa onda de inovação a partir das startups não é a nossa chance de começar a liderar a nova economia que está surgindo?!

Por |2022-11-15T21:41:24-03:0030/04/2019|inovação aberta|

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Atuo no mundo da inovação desde 2008. Já atuei em incubadora, consultoria e aceleradora, acelerando mais de 900 startups. Sou formado em Ciências Biológicas e Especialista em Gestão, e por isso gosto de misturar mundos diferentes para trazer mais inovação para o meu dia-a-dia. Coordeno os programas da Troposlab e crio novas metodologias de aceleração, atuando diretamente com mais de 50 grandes empresas. Além disso, tenho um lado nerd (ficção científica, heróis, histórias de aventura, etc).
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