Os novos desafios para uma economia regenerativa
A Vale, uma das maiores mineradoras globais, assumiu voluntariamente compromissos de sustentabilidade em concordância com a agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Entre esses compromissos está o de recuperar e proteger 500 mil hectares de áreas além das fronteiras da empresa, sendo, pelo menos, 100 mil hectares destinados à recuperação de áreas degradadas, com especial destaque para Sistemas Agroflorestais (SAFs) e arranjos envolvendo negócios agroflorestais de impacto socioambiental positivo. Para ajudar a empresa a alcançar essa meta, o Fundo Vale e a Reserva Natural Vale, veículos do investimento social privado, estão estimulando a cadeia produtiva da restauração, a fim de gerar renda e segurança alimentar para as comunidades locais e estabelecer novos modelos de uso do solo, de baixo carbono, de forma sustentável.
Por representar uma meta ambiciosa para o setor, e com alto potencial de contribuição para o Brasil, o caminho escolhido para dar uma resposta a este desafio foi a criação de um programa de aceleração de negócios de impacto, com a finalidade de estimular a inovação e uma economia mais sustentável. Desta forma, foi estabelecida uma parceria com a Troposlab para criação do Desafio Agroflorestal, programa destinado a buscar novas formas de “pensar os SAFs”, por meio da aceleração, implantação e validação de Provas de Conceito (PoC) de modelos de negócios de impacto socioambiental.
O desafio da aceleração de negócios agroflorestais
Desde o início do programa, em 2019, os realizadores tinham como premissa a co-construção junto com atores do ecossistema de inovação, SAFs e negócios de impacto para incorporar os diversos olhares e ideias. Dessa forma, o Desafio Agroflorestal foi dividido em 6 fases, descritas abaixo:
Figura 1. Fases do programa Desafio Agrofloretal.
O passo a passo do Desafio Agroflorestal na geração do impacto positivo
A primeira fase do programa aconteceu em outubro de 2019 e contou com a participação de colaboradores do Fundo Vale, Reserva Natural Vale, Troposlab e parceiros. Neste momento, a Troposlab conduziu um workshop para os participantes refletirem e co-construirem os principais desafios do ecossistema de SAF, que seriam direcionados para este programa de aceleração. Depois de uma tarde intensa de discussões, diálogos e trocas, chegou-se a 6 principais desafios, que foram:
- Logística: Formas e processos inovadores e viáveis de armazenagem, circulação e distribuição dos produtos agroflorestais.
- Novos produtos: Aplicações, de quaisquer setores (farmacêutico, cuidados pessoais, indústria química, etc.), que sejam baseadas em matérias-primas provenientes da floresta ou cultivo agroflorestal.
- Novos modelos de negócio: Modelos de negócios viáveis e socialmente responsáveis que tenham como base o Sistema Agroflorestal.
- Comercialização: Novos modelos de comercialização voltados para a chegada de produtos agroflorestais no mercado, levando em consideração as peculiaridades dos locais de produção e de consumo, inclusive zonas rurais.
- Processo produtivo: Inovações de processo que possam ser implementadas na indústria, visando ampliar ou viabilizar a produção de produtos agroflorestais.
- Instrumentos financeiros: Soluções que facilitem o acesso do produtor rural a recursos financeiros (acesso a linhas de crédito, como o Pronaf, P2P – Peer-to-Peer – lending, aval solidário, crowdfunding, garantias de receita, entre outros).
Na segunda fase, fomos atrás de atores do ecossistema de inovação e negócios de impacto que pudessem trazer soluções para os desafios apresentados. Além disso, buscamos realizar um mapeamento para entender como está composto e desenvolvido o ecossistema de SAF. Em nossas buscas, encontramos mais de 100 startups/cooperativas/projetos sociais, 34 centros de pesquisa/grupos de pesquisa e mais de 10 projetos e iniciativas que são referências nacionais e internacionais em SAFs. Ou seja, mais de 140 ideias que endereçaram soluções para os temas.
Como próximo passo, convidamos os atores com maior aderência ao programa a se inscreverem no Desafio Agroflorestal e fizemos um chamamento aos ecossistemas empreendedor e de inovação. Devido à particularidade do público – em sua maioria negócios florestais e grupos de pesquisa, e não startups –, a estratégia adotada foi priorizar uma divulgação capilar junto aos atores de relevância dos ecossistemas e, em paralelo, fazer uma ampla divulgação. Como resultado, obtivemos 69 inscrições, número que superou as expectativas. Tivemos empreendedores(as) de todas as regiões do Brasil e de variados estágios de desenvolvimento do negócio.
Para a fase seguinte, o Bootcamp (Fase 4), selecionamos 15 iniciativas mais aderentes à proposta do programa e com maior potencial de geração de impacto. O processo de seleção contou com a participação de especialistas de diferentes áreas, de forma a termos contribuições heterogêneas e complementares. Entendemos naquele momento que, além de avaliarmos o modelo de negócio, precisaríamos analisar a proposta de valor, o grau de inovação, a viabilidade técnica e a capacidade empreendedora da equipe, fator diferencial nessa seleção. Também consideramos aspectos referentes à tecnologia, negócio e composição da equipe, este último considerado aspecto primordial para alavancar o potencial de cada ideia em gerar impactos socioambientais positivos.
Figura 2. Distribuição das inscrições e equipes selecionadas.
Inicialmente o Bootcamp seria realizado de forma presencial, porém, devido às restrições de distanciamento social em consequência da pandemia de COVID-19, essa etapa foi remodelada e realizada totalmente online. Para que pudéssemos garantir a interação de qualidade entre os participantes, o aprofundamento nos desafios e o amadurecimento inicial da solução, o tempo de realização foi estendido para aproximadamente um mês e aumentamos os pontos de contato entre as equipes, mentores e realizadores.
Com essas mudanças, essa etapa acabou se transformando em uma pré-aceleração dos negócios, em que fomentamos as interações entre os participantes e mentores(as) convidados(as) para tirar dúvidas específicas dos grupos. Não podemos deixar de mencionar o destaque do Bootcamp, que foi a avaliação do perfil comportamental dos grupos, que nos possibilitou identificar o potencial empreendedor de forma a complementar a base de informações das equipes. Ao final dessa etapa, as equipes apresentaram as suas Provas de Conceito, sendo que apenas seis projetos passariam para a próxima fase, a Aceleração.
Na Fase da Aceleração, as equipes selecionadas puderam aprofundar e refletir ainda mais nos seus negócios e, principalmente, nos impactos positivos que querem gerar no meio ambiente e na sociedade. O programa facilitou a conexão das equipes com mentores especialistas em mensuração de impacto, SAF, sustentabilidade, investimento em negócios de impacto, questões jurídicas, posicionamento de marca, dentre outros temas. Para complementar, o SenseLab, consultoria em estratégia e inovação social, se juntou ao programa e trouxe sua ferramenta Modelo C, metodologia que integra os impactos com os negócios, unindo o Canvas com a Teoria de Mudança.
Foram ao todo dez encontros de mentorias entre Troposlab e equipes para refletirmos, repensarmos e redefinirmos os seus modelos de negócios, entre mentorias individuais e específicas para cada negócio. O propósito era gerar conexões de valor para alavancar os negócios acelerados. Algumas equipes saíram com novas parcerias, apoios e investimentos, frutos dessas conexões.
Para finalizarmos o programa de aceleração, realizamos um evento de apresentação dos resultados e planos dos negócios, o Demoday, que aconteceu totalmente online e com convidados parceiros dos realizadores. Neste momento foi possível perceber como todas as seis equipes aceleradas repensaram os seus modelos de negócio à medida que foram percebendo o impacto positivo que querem deixar no mundo. A exemplo, mostramos abaixo depoimentos de três equipes aceleradas no Desafio Agroflorestal e a mudança percebida por elas a partir do programa.
Resultados do Desafio Agroflorestal para além da modelagem do negócio
Desde o início do programa pensamos que as conexões geradas poderiam ser os maiores benefícios para as equipes. Na Troposlab, acreditamos no poder de amplificação dos resultados que a inovação em rede pode trazer, não só para os atores atuantes ali diretamente, mas também para todo o ecossistema. Buscamos entender como as conexões aconteceram e puderam beneficiar as equipes participantes do Desafio Agroflorestal. E o resultado veio: conseguimos realizar interações entre os realizadores (Fundo Vale, RNV e Vale), parceiros estratégicos (investidores, fomentadores de negócios da floresta, consultores, dentre outros) e as próprias equipes. Como efeito dessa iniciativa, percebemos que algumas equipes pivotaram as suas soluções, desenvolveram novas parcerias de negócios e se aproximaram ainda mais do ecossistema de inovação e SAF. Veja um pouco desses resultados no quadro abaixo, compilados.
Figura 3. Benefícios, tipos das conexões e quantidade das conexões do Desafio Agroflorestal
Ao longo da fase de aceleração, conseguimos realizar mais de 100 conexões com desenvolvimento de parcerias e potenciais investimentos, reforçando a importância de criação de um pipeline de negócios sustentáveis, escaláveis e que podem contribuir significativamente para a agenda de recuperação de áreas degradadas no Brasil.
O programa também permitiu aos realizadores conhecerem de perto as dificuldades reais de empreendedores. Como contribuição, formamos um pool de especialistas com vinte e cinco mentores que atuaram com as equipes oferecendo orientações em diferentes áreas, aprimorando o modelo de negócio e desenvolvendo soluções colaborativamente.
O compromisso dos realizadores com o desenvolvimento sustentável
O Desafio Agroflorestal possibilitou a Vale, Fundo Vale, RNV e Troposlab enxergarem de forma mais profunda o potencial do ecossistema inovador de negócios socioambientais e, com isso, dar inputs relevantes aos desafios de sustentabilidade, não apenas dentro das organizações, mas também nas agendas globais como os ODS, com foco numa economia mais verde e sustentável, de alto impacto positivo ambiental e social.
Espera-se que as iniciativas aceleradas gerem impactos como o aumento da produtividade por hectare, a geração de renda para agricultores familiares e comunidades tradicionais, o desenvolvimento de cadeias produtivas, a valorização dos produtos da biodiversidade, contribuindo significativamente com a recuperação de áreas degradadas. Ao ampliarem sua escala, aumentam as parcerias locais, o desenvolvimento de cadeias produtivas e a valorização dos produtos da biodiversidade. Também aumentam a produção e manejo sustentável, melhoram os serviços ecossistêmicos e regeneração do solo, contribuindo significativamente com a recuperação de áreas degradas.
Os sistemas agroflorestais, foco do programa, também contribuem com o sequestro de carbono (CO2) e, consequentemente, combatem o aquecimento global, endereçando o principal desafio climático brasileiro de gerar impacto socioeconômico local e trazer ganhos para os serviços ecossistêmicos, pauta da agenda ESG (Enviromental, Social and Governance).
Atualmente, a Vale protege mais de 1 milhão de hectares (aproximadamente 600 milhões de toneladas de carbono equivalente estocadas). Com a meta florestal estabelecida para 2030, a empresa busca soluções inovadoras para aumentar em 50% a área que protege hoje e, neste contexto, o Desafio Agroflorestal trouxe uma excelente oportunidade de conexões futuras e de parcerias de negócios com as startups, contribuindo também para a cultura de inovação da empresa.
Além disso, a Troposlab vem contribuindo com a sua missão de ajudar a desenvolver o ecossistema de inovação da América Latina, trazendo temas de aceleração cada vez mais relevantes e estratégicos.
Quer gerar impacto por meio da inovação, em um programa pensado sob medida para a sua empresa? Entre em contato conosco!