A armadilha da casa grande

Você já se mudou de casa? Ao longo da minha vida acabei me mudando muitas vezes, seja acompanhado meu pai na infância, seja na vida adulta. Por isso tenho refletido um pouco sobre um comportamento comum desse processo de mudanças.

O mais natural é que as pessoas acabem migrando para casas maiores para receber seus filhos ou para ter mais conforto. Com uma casa maior você começa a ter lugares para guardar coisas que antes não tinha por falta de espaço. Provavelmente consegue ter uma mesa de jantar maior e, muitas vezes, prefere convidar pessoas para jantar na sua casa ao invés de sair para conhecer um restaurante novo. Talvez tenha espaço para alguns pesos e uma bicicleta ergométrica, e acaba substituindo a ida para a academia. Ou então tenha um quintal ou terraço que permita seus filhos brincarem e as idas para o parquinho diminuem.

Ao aumentar a sua casa você corre o risco de interagir menos com o mundo e tentar ter as coisas dentro de casa.

O mesmo acaba acontecendo com as empresas. Quando elas começam, sabem que não têm como ter todas as competências “dentro de casa” e por isso são muito mais abertas a parcerias, contratações de serviços ou mesmo deixar ideias de lado. À medida que a “casa” aumenta, começam a criar departamentos para resolver inúmeros problemas que surgem com o crescimento da empresa. Muitas vezes essa é a solução que financeiramente faz mais sentido mas, sem perceber, essa empresa pode criar barreiras que a isolam do mundo externo e das inovações e oportunidades que existem lá fora.

Quanto mais distante do core business, maior a chance da equipe interna desenvolver algo que não é mais a melhor opção de mercado ou, no mínimo, que o custo benefício não seja mais tão atrativo assim.

Muitas empresas têm desenvolvido suas estratégias de inovação aberta justamente para reverter esse efeito de “casa grande” e oxigenar os seus processos com novas ideias. Isso pode acontecer interagindo de diferentes formas com diferentes players. A inovação aberta não precisa ser somente um projeto de pesquisa e desenvolvimento complexo com uma universidade da mesma forma que não é só a conexão com startups.

Você pode começar o seu processo de inovação aberta visitando espaços de inovação, fazendo eventos ou mesmo visitando outros locais. E a partir daí evoluir para desenvolver pequenos projetos de parceria para coisas mais simples do seu dia a dia, até se sentir confiante para desenvolver projetos de novos produtos em conjunto.

Da mesma forma, existem vários players no seu mercado com quem você pode interagir. Muitas empresas já têm o costume de desenvolver projetos em parceria com os seus fornecedores (várias indústrias, por exemplo, fazem isso há décadas, mesmo sem entender que se configura como inovação aberta).

Se a sua liderança tem cobrado ações de transformação digital, pode ser que startups sejam um bom parceiro para começar. Se o seu negócio tem produtos muito complexos, talvez a melhor parceria esteja nas universidades. Por outro lado, se a disputa por clientes é intensa no seu mercado, trazê-los para o seu processo de criação pode ser a melhor estratégia de ganho de credibilidade. Ou se o seu setor como um todo tem dificuldades de inovar, trazer seus concorrentes para repensar o mercado como um todo pode ser a melhor estratégia.

Enfim, o aprendizado que fica é que por melhor que seja a sua casa, ou por maior que ela seja, muitas vezes sair e interagir com o mundo vai te fazer muito bem a longo prazo.


Quer entender que tipo de ação de Inovação Aberta se adequa ao momento do seu negócio? Escreve pra gente!

Por |2022-10-05T14:22:48-03:0024/08/2022|inovação aberta|

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Atuo no mundo da inovação desde 2008. Já atuei em incubadora, consultoria e aceleradora, acelerando mais de 900 startups. Sou formado em Ciências Biológicas e Especialista em Gestão, e por isso gosto de misturar mundos diferentes para trazer mais inovação para o meu dia-a-dia. Coordeno os programas da Troposlab e crio novas metodologias de aceleração, atuando diretamente com mais de 50 grandes empresas. Além disso, tenho um lado nerd (ficção científica, heróis, histórias de aventura, etc).
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