Inovação Aberta e Inovação em Rede: como sua empresa pode otimizar os resultados de inovação?

A inovação tem sido pauta da gestão estratégica em empresas de todos os portes e setores. Entretanto, os gestores nem sempre sabem por onde começar ou como estabelecer processos eficientes. Mas, há pelo menos uma década, muitas empresas têm se atentado para as possibilidades de se fazer inovação para além dos próprios limites territoriais.

E é nesse sentido que refletimos sobre o que é inovação aberta, o que é inovação em rede e como é possível aumentar o alcance de inovação dentro das empresas com essas estratégias. Começamos essa discussão conceituando cada uma dessas formas de se inovar, as especificidades delas e como podem ser dar de forma independente ou entrelaçada.

Afinal, o que é inovação aberta?

O conceito surgiu em 2003, criado por Henry Chesbrough, quando pouco se discutia sobre as possibilidades de se fazer inovação além dos territórios das empresas. Chesbrough, desde então, estudou mais de perto as formas de gerar inovação para além dos recursos internos.

Nas últimas décadas, assistimos à consolidação do termo e da aplicação dele. Podemos notar muitas mudanças e transformações. No começo, tivemos poucos estudos e a maioria tratava de inovação aberta para aplicação de produtos. Mas, ao longo do tempo, isso mudou e, atualmente, temos um número expressivo deles, nos quais se nota movimento para aplicações em processos e serviços.

O sucesso decorrente das práticas de inovação aberta para produtos, processos ou serviços é indiscutível. Chesbrough cita um estudo em que 80% de grandes empresas entrevistadas relataram ter incorporado processos de inovação aberta com resultados importantes. Ele, inclusive, sugere que hoje em dia é impossível discutir inovação industrial sem citar o conceito de inovação aberta. Isso porque as empresas que desejarem manter diferenciais competitivos na velocidade que o mercado determina precisarão abrir seus portões e produzir para além dos seus limites.

Nesse caminho de aderência e grandes transformações, muito conhecimento foi gerado pelas empresas que ousaram fazer o que propõe esse modelo de inovação. E com o avanço das práticas, o conceito passou por revisões. Afinal, como inovação aberta é definida? Para Chesbrough:

“Inovação Aberta é a inovação que é gerada acessando, aproveitando e absorvendo os fluxos de conhecimento além dos limites da empresa.”

Já a inovação fechada ocorre quando a geração de produtos ou serviços inovadores é feita com recursos internos. Aparentemente, a tendência é que vejamos cada vez menos esse tipo de inovação e cada vez mais um misto dos tipos de inovação aberta ocorrendo. 

Como a inovação aberta pode ocorrer?

Outro aspecto interessante que promove boas discussões nesse campo de estudos está relacionado aos tipos de fluxos para realização da inovação aberta. Não existe uma única forma de incorporar processos de inovação dentro de uma empresa. Podemos, inclusive, encontrar duas direções nesses fluxos:

  • De fora para dentro: ocorre quando a empresa acessa recursos que estão fora de seus limites e incorpora conhecimentos e tecnologias de outras empresas, de outros atores ou de outros ecossistemas. Por exemplo, quando a empresa adquire uma solução desenvolvida por uma startup ou por alguma universidade e a incorpora em seus produtos ou serviços. A partir disso, várias empresas mantêm-se atualizadas sem jamais investir em P&D.
  • De dentro para fora: aqui a empresa passa a gerar valor ao oferecer conhecimentos e tecnologias que se incorporem a produtos e serviços de outras empresas. Por exemplo, quando as empresas vendem projetos e ideias com potencial de se transformarem em novos negócios.

Os tipos fluxos não são por si só mais ou menos estratégicos quando comparados um com o outro. O valor dos processos deve ser analisado a partir das estratégias de inovação da empresa ou do portfólio dela. Outro ponto relevante: não há fluxos que sejam mais ou menos seguros, mais ou menos onerosos. Contudo, o fluxo “de fora pra dentro” ganhou força primeiro e os estudos dessa área indicam que ele ocorre mais frequentemente.

E os desafios para se fazer inovação aberta?

Embora as vantagens competitivas desse processo estejam cada vez mais consolidadas, há alguns desafios. Chesbrough relata dois dos principais desafios: 1) gerenciar o impacto nos processos internos de inovação e 2) transferir resultados para a unidade de negócios. Esses pontos são facilmente perceptíveis quando os processos de inovação são acompanhados.

Quando o fluxo ocorre “de fora pra dentro”, nota-se resistência e a famosa síndrome do “não foi feito aqui”. Por outro lado, quando o fluxo ocorre de “dentro pra fora”, há medo em ver projetos ou produtos saindo do pipeline.

Todo processo de inovação requer um bom plano estratégico e uma mudança profunda na cultura organizacional. Isso porque só assim conseguimos substituir os velhos processos por novos, os times empreendedores adquirem novas competências e há implementação consistente da estratégia planejada.

A inovação aberta traduz muito bem uma tendência que ganha força no mundo produtivo. E, se o conceito ainda mudar, aposta-se que será no caminho de ser aplicado para orquestrar uma grande quantidade de participantes em vários momentos diferentes da inovação, num tipo de comunidade mais diversa e mais conectada. 

O futuro demonstra que será mais complexo, mais colaborativo e envolvido por uma diversidade maior de participantes. Como nos diz Chesbrough, em 2017, no texto “The future of the open innovation”:

“Antes da inovação aberta, o laboratório era o nosso mundo. Com a inovação aberta, o mundo agora se tornou nosso laboratório.”

A Inovação em Rede

Quando se considera que a inovação aberta está relacionada a uma maior colaboração e maior envolvimento de diferentes atores, surge um outro conceito relevante e complementar: a Inovação em Rede.

De forma objetiva, a inovação em rede é constituída pela conexão de diferentes atores com o intuito de desenvolver tarefas específicas de modo a resolver em conjunto problemas tecnológicos ou mercadológicos complexos. 

Porque estudar Inovação em Rede?

Quando o assunto é inovação, muitos gestores encaram tradicionalmente a questão: as empresas devem brigar entre si pelo domínio do mercado. Contudo, essa abordagem tem limites. Isso porque as organizações não são entidades isoladas, mas partes de um ecossistema composto por várias instituições.

Muitas vezes, as empresas individualmente não são capazes de resolver problemas complexos. Por isso, faz sentido se organizarem conjuntamente. Portanto, deve-se pensar também em estratégias cooperativas além das clássicas estratégias competitivas.

“Negócios inovadores não podem evoluir em um vácuo.”

James F. Moore é considerado um pioneiro na abordagem de ecossistema de negócios e no estudo de redes de organizações que, juntas, constituem um sistema de suporte mútuo, que evoluem de maneira conjunta. No texto “Predators and prey: a new ecology of competition”, ele explica como ocorre o desenvolvimento dos ecossistemas de negócio.

Assim como um ecossistema biológico, um ecossistema de negócios evolui de uma combinação aleatória de elementos para uma comunidade estruturada. Essa evolução ocorre em quatro estágios: nascimento, expansão, liderança e autorrenovação (ou morte). É importante conhecer e entender o que se dá em cada estágio para saber quais estratégias competitivas e colaborativas serão adotadas.

Estágios evolutivos de um ecossistema de negócios

1. Nascimento

É o momento em que empreendedores focam na proposta de valor de um produto ou de um serviço e em como entregá-la. Tem êxito nesse momento quem melhor define e entrega essa proposta de valor. Por outro lado, é interessante pensar em estratégias cooperativas. Isso porque parceiros completam o pacote de serviços que se deseja entregar ao cliente.

O foco nesse primeiro estágio, contudo, não pode ser apenas em satisfazer as necessidades dos clientes. Nessas empresas que evoluem conjuntamente, deve emergir um líder para iniciar um rápido e contínuo processo de melhoria que permita que a comunidade inteira caminhe para o futuro. Uma liderança precisa criar e manter toda uma comunidade de parceiros e fornecedores desde o início.

O autor sugere que, nesse momento, empresas já bem estabelecidas devem esperar e observar atentamente o surgimento de novos mercados. O processo iterativo de desenvolver ideias inovadoras e de descobrir quais soluções são atraentes para os consumidores dificilmente é realizado em uma empresa tradicional. Em um cenário empreendedor, várias ideias serão testadas, e o mercado escolherá as melhores.

Assim, essas empresas podem replicar essas ideias bem-sucedidas em um mercado mais amplo. Entretanto, essa visão do autor é questionável já que há vários exemplos de empresas tradicionais capazes de gerar ideias inovadoras e de protagonizarem a transformação do mercado. Trabalhar a cultura empreendedora internamente e redefinir processos muito rígidos são bons caminhos para que não sejam apenas coadjuvantes.

2. Expansão

Ecossistemas de negócios se expandem para conquistar novos mercados. Essa expansão pode ocorrer tranquilamente e sem resistência externa ou ser caracterizada por brigas diretas com ecossistemas rivais por domínio de mercado. Cada ecossistema exerce pressão sobre fornecedores e clientes para que eles façam parte da comunidade. O final dessa disputa pode resultar no domínio de um único ecossistema e na sobrevivência de ecossistemas rivais, porém sem muita estabilidade.

São necessárias duas condições para a expansão de um ecossistema: 1) um modelo de negócios valorizado por muitos clientes e 2) o potencial de escalabilidade desse modelo para atingir um mercado maior. Um dos grandes desafios é gerar demanda sem exceder a capacidade de atendê-la.

Empresas já bem estabelecidas têm grande poder nesse momento, no que se refere a marketing, vendas, gestão de produção em larga escala e distribuição. Nesse processo, ela pode destruir ecossistemas menores. Entretanto, em vez de demolir esses ecossistemas, é mais interessante para as empresas tradicionais trabalharem conjuntamente. Dessa forma, aprendem sobre como inovar e a comunidade se fortalece.

3. Liderança

O ecossistema se preocupa com o futuro e com a garantia de que os fornecedores trabalhem conjuntamente para entregar valor. As empresas desse ecossistema focam em processos padrão, em questões organizacionais e em fortalecer a relação com seus clientes e fornecedores.

Para um ecossistema ser líder, ele precisa crescer forte o suficiente e ser rentável para que valha a pena lutar por ele. Além disso, seus processos centrais e os componentes que agregam valor precisam ser estáveis. Essa estabilidade permite que os fornecedores se sintam seguros para participar na entrega de valor e incentiva os membros do ecossistema a expandir.

O ponto principal é que o ecossistema como um todo não seja mais dependente da empresa originalmente líder. É fundamental que a geração de inovação e de valor para todo o ecossistema seja constante. Em caso contrário, todo o ecossistema fica dependente de um único fornecedor, que ganhará muito poder de barganha. Isso não é desejável, pois ao mesmo tempo em que os membros atuam de maneira cooperativa, há estratégias competitivas.

Nesse momento, fornecedores podem ocupar o status de contribuidores ecológicos centrais, que são participantes de um ecossistemas sem os quais os outros membros não vivem. Esse status é mantido por terem conseguido um grande número de seguidores e por contribuírem com importantes inovações para o ecossistema.

4. autorrenovação (ou morte)

É quando ecossistemas de negócios maduros são ameaçados por novos ecossistemas e por inovações. Fatores como mudança de governo, padrões de consumo ou condições macroeconômicas podem afetar um ecossistema já estabelecido. Esse é um momento propício para o surgimento de novos ecossistemas ou para que os ecossistemas marginais obtenham êxito.

O principal desafio, nesse momento, é lidar com a obsolescência. As empresas dominantes do ecossistema precisam gerar inovação sucessivamente para continuar tendo êxito e se renovarem.

Existem três abordagens para essa autorrenovação: empresas dominantes podem tentar diminuir o crescimento de novos ecossistemas, tentar incorporar inovações ao seu ecossistema ou se reestruturar completamente para sobreviver na nova realidade.

O que se pode levar sobre inovação em rede?

Gestores precisam entender os estágios pelos quais os ecossistemas de negócios passam e saber como lidar com as mudanças. As empresas tradicionais não podem deixar o ecossistema do qual fazem parte evoluir sem direção. Em caso contrário,a inovação pode ser uma ameaça.

Para a inovação ser uma oportunidade e não uma ameaça, as empresas precisam trabalhar junto a fornecedores, parceiros e clientes que entreguem inovação. É essencial que essas instituições inovem para que não percam poder de barganha no ecossistema do qual fazem parte.

É importante lembrar que ecossistemas de negócios, diferentemente de ecossistemas biológicos, são sistemas sociais, compostos por pessoas. Portanto, o trabalho com cultura de inovação e com comportamento empreendedor também precisa ser realizado..

“Se você mudar as ideias de um sistema social, você muda o próprio sistema.”

Relação entre inovação aberta e inovação em rede?

A inovação não deve ser encarada como um fim em si e sim como processo para se atingir um objetivo. Dessa forma, fazer inovação é um estratégia dentre várias formas de gerar valor dentro em uma empresa ou para algum mercado. Os vários tipos de inovação e os vários tipos de processos para gerar inovação precisam ser pensados a partir de uma estratégia. E precisam ser pensados de forma a serem otimizados.

Sendo assim, tanto o processo de inovação aberta como o processo de inovação em rede ocorrem com o mesmo propósito: aumentar a probabilidade de sobrevivência de uma organização. Contudo, quando observados de maneira mais micro, percebemos que têm especificidades. O desenho abaixo é uma forma de ver isso:

No caso da inovação em rede, há interações ocorrendo para fortalecer o ecossistema, que relacionam vários atores (a, b, c, d, e, f ). Já no que se refere à inovação aberta, há uma interação que gera força de sobrevivência mais relacionada à empresa (a) que faz as interações (b, e).

Uma boa maneira de pensar a relação entre os processos é encontrar formas de otimizar as relações da empresa,para gerar mais valor em produtos ou serviços ou força para o ecossistema do qual faz parte.

Por fim, ressaltamos que esses dois conceitos são relevantes para as empresas que almejam aprimorar esforços de inovação. Inovação em rede e Inovação aberta são termos próximos que podem ser sinérgicos. Porém cada um tem particularidades. Cabe ao gestor a habilidade para entender como conduzir melhor a aplicação desses conceitos nas empresas e projetos. Não existe solução padrão. Mas algo está em evidência: o momento é propício para a interação com outros atores e possibilita a construção conjunta de soluções mais aderentes e customizadas.


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Por |2024-03-25T08:43:34-03:0001/09/2020|inovação aberta|

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