Metas e prazos são ruins para a inovação nas empresas?

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Uma das afirmações ou conclusões de Clayton Christersen que eu acho mais interessantes em seus estudos sobre inovação nas empresas é a de que o que faz uma organização ser boa e eficiente hoje, pode ser o que a atrapalha a inovar e se preparar para o futuro. Nesse texto vou falar sobre como metas e prazos podem afetar a inovação, dando exemplos do que já observei.

Se quiser saber um pouco mais sobre os elementos da estratégia de inovação que Christersen sugere considerar para sua empresa, aqui tem um post que fizemos falando sobre isso.

Metas e prazos: quando podem atrapalhar a inovação nas empresas?

Quando uma empresa já está consolidada, seus processos, recursos e valores são voltados para executar seu modelo de negócio da maneira mais eficiente possível. Esse objetivo é diferente do das startups, que focam em descobrir ou procurar o melhor modelo de negócio a ser executado.

Naturalmente, os colaboradores  da empresa vão focar seu tempo na execução das tarefas ligadas a sua função e serão cobrados e avaliados com base nisso, seja por metas, prazos ou outros indicadores.

No entanto, essa situação pode ser um problema quando esses mesmos colaboradores são convidados a propor projetos de inovação ou melhoria continua que fogem da rotina, como em programas de intraempreendedorismo, nos quais o objetivo é contribuir para a inovação dentro da empresa.

Em todos os programas de intraempreendedorismo que eu já acompanhei, sempre encontrei o mesmo problema: colaboradores animados e empolgados para se dedicar ao projeto que propuseram, esperando conciliar o tempo para isso, mas que na prática continuam sendo cobrados das entregas usuais de sua função, que já quase não cabem no tempo normal de trabalho. Como são tarefas que trazem resultados mais imediatos e “botam comida na mesa”, tal cobrança, relacionada principalmente a metas e prazos, faz com que a inovação acabe caindo no velho e triste terreno do “importante, mas não urgente”.

Mesmo quando os projetos têm um ótimo rendimento durante o programa, é comum que, uma vez encerrado e sem o acompanhamento próximo do projeto em questão, ele morre. Isso acontece porque a equipe é simplesmente absorvida pelas tarefas tradicionais da empresa, e um projeto sem equipe está fadado ao fracasso.

Porém, as metas e prazos na inovação não trazem dificuldade apenas em relação ao tempo de dedicação dos colaboradores. Recentemente vi um projeto que estava com um “problema” que eu só havia visto antes em projetos do setor público. A ideia era a implementação de uma solução digital para organização de documentos dentro da empresa, mas para isso estava sendo negociada a contratação de um fornecedor para viabilizar tal solução.

Ao conversar com a pessoa responsável pelo projeto, sugeri a realização de um MVP para testar as hipóteses, antes de gastar recursos na contratação de uma solução que pode ainda não ser a que resolverá o problema. Essa é uma das premissas do desenvolvimento ágil e das metodologias aplicadas pela Troposlab.

No entanto, a pessoa disse que não poderia fazer isso, pois havia um orçamento para contratar um fornecedor e ela não poderia deixar de contratá-lo. Era necessário cumprir a meta do orçamento. Ou seja, os valores da empresa incentivam a gastar mais e com risco de pouco retorno para cumprir uma meta, ao invés de realizar testes rápidos que possibilitaria chegar a uma solução viável e desejável mais rápido, investindo recursos de maneira mais eficiente e inteligente.

Isso significa que não é bom ter metas e prazos no processo de inovação? Não, pelo contrário, eles são muito importantes. No entanto, quando se quer inovar, as metas e prazos de um projeto inovador, por ser algo novo e diferente para a empresa, devem ser diferentes das metas e prazos utilizados até então.

O que fazer? Como evitar esse problema?

Apresentada a dificuldade, vou sugerir duas soluções possíveis que podem ajudar a combater esse problema, favorecendo o avanço e desenvolvimento dos da inovação na sua empresa. 

A primeira é trabalhar para desenvolver as habilidades de gestão e planejamento nos colaboradores, utilizando metodologias ágeis como o SCRUM. A vantagem é poder separar um pouco o trabalho do colaborador em dois mundos: o da empresa e o do projeto, registrando os objetivos específicos e distribuindo suas tarefas periodicamente na forma de “sprints de trabalho”, considerando as horas de dedicação que o colaborador tem para o projeto e o grau de importância de cada tarefa. 

Se isso não for apoiado na prática pela empresa, não terá efeito.

Em um dos projetos que acompanhei na Saint-Gobain, a aplicação do SCRUM funcionou tão bem que outras áreas da empresa começaram a aplicá-las, inspiradas pela equipe do projeto.

 A segunda solução que pode ajudar segue a mesma lógica de “separação” da rotina, mas é mais profunda: oferecer uma licença à equipe envolvida com o projeto, acompanhada de total liberdade de desenvolvimento dele, minimizando ao máximo as influências dos valores da organização ou empresa-mãe nas tomadas de decisão do projeto inovador.

 Um lugar onde eu já presenciei isso aplicado de forma interessante foi na Oxigênio, aceleradora ligada à Porto Seguro. Eles têm um programa de intraempreendedorismo no qual é concedida uma licença não remunerada de 3 meses aos colaboradores da Porto Seguro que propõem projetos de inovação ou spin-offs.

 Após esse período no qual desenvolvem o projeto com apoio da aceleradora, os colaboradores têm a opção de continuá-lo, ou voltar à sua função anterior dentro da empresa.

 Embora as duas estratégias sejam interessantes, a segunda, mais profunda, é uma que acho particularmente mais efetiva para alcançar resultados assertivos e mais rápidos, não só para projetos, mas para a cultura da empresa.

Isso porque não só é dada mais liberdade à equipe envolvida, com apoio da empresa-mãe, mas também é colocada maior responsabilidade sobre suas decisões, estimulando o desenvolvimento das habilidades empreendedoras.

Essas habilidades empreendedoras são importantes não só para desenvolver os colaboradores diretamente envolvidos nos projetos, mas servirão de referência para replicar esses comportamentos na cultura de inovação da empresa, favorecendo o dinamismo e contribuindo para adaptar, aos poucos, seus valores.

Isso vai funcionar na minha empresa? Como faço para saber mais?

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Por |2023-05-22T12:34:12-03:0012/08/2021|gestão e liderança|

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Sou engenheiro, empreendedor e mentor de startups. Já dei mentoria para mais de 230 startups e projetos, em mais de 30 programas de inovação. Sou especialista em modelagem de negócios e ajudo pessoas a empreender. Gosto de tocar violão, faço trocadilhos (que os colegas de trabalho adoram...) e sou bem nerd (com jogos de computador, Star Wars e tudo mais). Mas também sou interessado pela vida humana, estudante de Logosofia e eterno aspirante ao saber, inquieto com o Universo e seus mistérios.
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