Habilidades de relação e sua importância ao empreender

  • habilidades de relação

Nos textos anteriores, falamos sobre a importância de mapear e compreender tanto o que te motiva a realizar um empreendimento, quanto os objetivos e impactos que visa através deste, buscando desenvolver ações para alcançar tais objetivos. Para isso, aprofundamos nas habilidades empreendedoras relacionadas aos pilares de motivação e realização para empreender, bem como maneiras de desenvolvê-las para obter maiores chances de sucesso ao empreender um projeto, ideia ou negócio.

No post de hoje, iremos explorar mais a fundo as habilidades em torno do pilar de relação, isto é, as habilidades que se referem à capacidade de formar laços e interagir bem com outras pessoas, a fim de inspirá-las e conduzi-las na direção da realização de seus projetos, ideias e negócios: liderança e formação de rede de relações

O fundamento social do empreendedorismo

Conforme trouxemos em nosso primeiro texto conceitual sobre comportamento empreendedor, o ato de empreender é um ato fundamentalmente social. Isso pode ser observado uma vez que, quem empreende visa atingir ou gerar impactos sobre outras pessoas, sejam camadas maiores ou menores e mais específicas da sociedade. Isso se conecta também com a Teoria das Necessidades Adquiridas, consolidada por David McClelland em seu livro The Achieving Society (1961), onde relata três necessidades básicas que motivam o ser humano. Uma delas sendo a necessidade de afiliação, isto é, de criar e manter relações sociais, visando fazer parte de um grupo, gerar colaboratividade, e desejando aceitação social.

É fato, portanto, que o ato de empreender com sucesso não demanda somente conhecer suas motivações e objetivos e agir para realizá-los, mas também demanda o estabelecimento de relações com outras pessoas para a execução de tais ações. Mesmo que você se considere autônomo, isto é, o único que conduz as operações de seu empreendimento, deve-se lembrar que está executando tais ações para atender alguém; o que demanda, em termos de continuidade, que você seja capaz de formar e manter boas relações com seu público-alvo, conduzindo-os a apoiar ou consumir sua ideia, projeto ou negócio. E para conseguir estabelecer e manter relações eficazmente, o modo mais consistente para a geração de impactos realmente positivos sobre suas relações deve ocorrer por meio do uso de práticas empáticas.

Práticas empáticas: base para a inovação

A empatia, definida comumente como “a capacidade de se colocar no lugar do outro”, tem sido uma das habilidades interpessoais mais discutidas nos últimos tempos, principalmente no contexto de avanços sociais. Porém, muitas pessoas ainda banalizam bastante esse termo, seja por excesso de individualidade, seja por confundir empatia com permissividade (do popular termo “ser bonzinho”), ou por seguir a lógica de hierarquização (“manda quem pode, obedece quem tem juízo”). 

Muitos não percebem que há uma diferença entre ter uma relação com alguém (que pode ser positiva ou negativa para um ou ambos os lados desta) e ter uma conexão com alguém. Um dono de um armazém, por exemplo, pode ter uma relação de “chefia” com o responsável pelo caixa do armazém, mas não necessariamente terá uma conexão pessoal com este, isto é, pode não possuir identificação em aspectos pessoais e propósitos em comum com esta pessoa. E, caso não tenha, provavelmente não poderá contar com muito entusiasmo por parte deste colaborador para a geração de ações colaborativas que vão além de suas tarefas de praxe. 

Isso acontece porque para haver uma conexão real, ao estabelecer uma relação com alguém, é necessário empatia, ou seja, buscar ouvir e entender melhor as visões e propósitos de outra pessoa, entendendo como se conectam com suas visões e propósitos. Muitas pessoas acabam focando muito em querer trazer e impor suas visões e opiniões sobre as dos outros, caso haja algum aspecto contrário, ao invés de dar a chance da pessoa trazer suas visões, sem julgamentos, buscando entender como se conectam de alguma forma, mesmo que haja diferenças. 

No contexto de inovação e empreendedorismo, as práticas empáticas são ainda mais imprescindíveis, não sendo à toa a existência de tantos artigos recentes promovendo a colaboração como o futuro do trabalho/empreendorismo. Uma vez que inovar e empreender diz respeito a produzir soluções que aumentem a eficiência de um determinado processo ou serviço utilizado por alguém, essas soluções devem ser aderentes à realidade do usuário. Para que você conheça a realidade de tal usuário, é necessário exercer práticas empáticas como a escuta ativa, identificando dores reais do usuário a partir de seus relatos e se colocando no lugar deste. As práticas empáticas se tornam, então, uma base essencial para produzir soluções aderentes e que gerem melhorias de fato no cotidiano de seus usuários.

Mas como as práticas empáticas contribuem, então, para o desenvolvimento de habilidades empreendedoras do pilar de relação?

Formação de rede:

No contexto empreendedor, a habilidade de formação de rede diz respeito à capacidade de formar conexões, criando e mantendo uma rede de relações mutuamente benéficas. Dessa maneira mantém-se em contato com pessoas-chave que possam auxiliar na realização de seus objetivos, bem como na expansão e desenvolvimento de seu empreendimento. Também envolve, em certo nível, a capacidade de persuasão e negociação, mediando interesses e divergências para gerar pontos de conexão e resultados benéficos para ambas as partes.

Redes de relação são fundamentais não só para a identificação de oportunidades de negócio, mas também para a ampliação do impacto social e cultural de um empreendimento. E assim, auxiliar na disseminação sistemática de inovação: quanto mais pessoas aderem à sua ideia ou produto, mais pessoas elas podem influenciar a aderirem também. Nesse sentido, é importante ter um olhar horizontal ao pensar em suas relações, tanto em termos de parceiros e colaboradores para a realização de ações e expansão de seu empreendimento, quanto nas relações com aqueles que irão aderir à sua ideia ou produto. Isto é, entender todos aqueles que o apoiam como pessoas que estão lado a lado com o seu propósito, e não abaixo de você de alguma forma, independente de sua posição social em relação a tais pessoas.

Pensando em como desenvolver tal habilidade de estabelecer e manter relações de maneira mais consistente, são importantes ações como:

  • Mapear pessoas que podem ajudá-lo a alcançar seus objetivos mais rápido (ou que são diretamente impactadas por tais objetivos): ao desenvolver um empreendimento, um bom primeiro passo estratégico, após definir os objetivos e impactos que você gostaria de gerar, é entender quem são as pessoas diretamente afetada pela solução proposta por você, e que expertises você precisará para desenvolver tal solução, mapeando pessoas que as tenham. Entendendo, nesse sentido, quais relações você já possui que podem colaborar com você mais facilmente, e quais relações você ainda precisa desenvolver para avançar seu empreendimento em cada aspecto correlacionado.
  • Busque dar voz às pessoas, evitando fazer julgamentos às suas dores: querer realizar ações ou soluções para pessoas sem ouvir suas percepções poderá resultar em desentendimentos e soluções inaderentes às necessidades daquelas pessoas. Estimule-as a trazerem suas percepções para entender como podem se conectar com o seu propósito, buscando por pontos em comum, mesmo em meio às divergências.
  • Estabeleça práticas periódicas de contato: muitos empreendedores têm facilidade em formar novas relações, mas em meio à correria do cotidiano acabam por deixar muitas relações “esfriarem”, por não agendarem lembretes e momentos para manter um nível rotineiro de comunicação e conexão com as relações formadas. É essencial, portanto, buscar determinar momentos em seu cotidiano para reforçar laços com as relações vitais para seu empreendimento, independentemente do nível de urgência do contato.
  • Deixe sempre claro os benefícios da relação para ambas as partes: para reforçar a sensação de conexão, é importante, ao longo de sua comunicação,  trazer sempre à tona (de maneira natural, claro) o sentimento de colaboração entre você e alguém rumo a um propósito comum, e o quanto isso é benéfico para ambos. Quando alguém começa a ter a sensação de que está oferecendo benefícios muito mais do que está recebendo, a relação pode se desgastar rapidamente. 
  • Busque ser transparente: expressões populares como “a honestidade é a melhor política” podem ser mais reais do que você imagina. Muitas pessoas podem identificar facilmente quando alguém está tentando “maquiar” realidades negativas para agradar, o que estremece bastante a confiança e os laços formados na relação. Evite omitir informações negativas relevantes para a sua relação caso precisem chegar a um ponto em comum juntos, focando em como comunicar tais informações de maneira a chegar num acordo.

Essas são algumas ações que, para além de fundamentais para o desenvolvimento da habilidade de formação de rede, são também fundamentais e frequentes para o desenvolvimento da habilidade:

Liderança

A habilidade de liderança é talvez a que possui a literatura mais ampla, em termos de múltiplos conceitos diferentes do que envolve ser um líder em termos de ações práticas a serem executadas por este em cada contexto de atuação. A partir da teoria de David McClelland e também de nossas experiências, consideramos a liderança, de maneira geral, a capacidade de alguém em influenciar indivíduos, reforçando-os positivamente quanto à execução de ações rumo ao alcance de objetivos determinados por este. 

Para além das ações sugeridas não só na habilidade acima, mas em todas as demais habilidades dos textos anteriores, especialmente as de planejamento e visão de oportunidades, são ações importantes, para se desenvolver liderança:

  • Compreender a missão ou visão de seu empreendimento/organização, definindo e estabelecendo-a de forma clara e atraente: para gerar conexão de pessoas ao seu propósito, é importante ter uma visão bem definida e comunicá-la de maneira sensível e extensiva à equipe liderada, reforçando o que os motiva e os objetivos a serem alcançados sempre que possível para que não o percam de vista. O mesmo também deve ser feito à sua rede de relações (possíveis novos colaboradores e parcerias), buscando pontos em comum.
  • Promover sempre a colaboração entre sua equipe: buscar estabelecer nos processos de seu empreendimento rotinas ou momentos periódicos para compartilhar objetivos, ouvir sugestões, informar, debater, mobilizar esforços, e tomar decisões estratégicas em conjunto. Isso incentiva um ambiente seguro para que as pessoas participem da construção de processos, e pode ser fundamental para transformar grupos de pessoas em verdadeiras equipes. Favorecendo, assim, sua sinergia e alinhamento, e a sensação que estão construindo algo de valor com mais pessoas conectadas ao mesmo propósito.
  • Encorajar e reforçar a autonomia de sua equipe na produção de novos processos: como citado anteriormente, querer construir ações que envolvem pessoas sem envolvê-las no processo pode gerar impactos muito negativos e desalinhados à realidade e necessidades delas. Nesse sentido, é importante promover a autonomia e voz de colaboradores (e público-alvo) e manter abertura às suas ideias, buscando alinhá-las aos valores estabelecidos para seu empreendimento.
  • Dê espaço para erros e insucessos, mas extraindo sempre aprendizados: uma das coisas que mais impedem o desenvolvimento de criatividade e coragem para riscos em equipes é justamente o medo de fracassar e ser punido por lideranças por conta disso. É importante estabelecer rotinas, entre sua equipe, de reconhecer erros e insucessos com gentileza, entendendo e lidando com os impactos negativos disso enquanto time e registrando aprendizados da situação para que não ocorram erros similares novamente.
  • Estabeleça momentos para comemorar bons resultados e conquistas em equipe e de colaboradores: um ponto que passa muito despercebido para alguns líderes é a importância que valorizar bons trabalhos e resultados tem para reforçar o sentimento de conexão com o propósito entre equipes envolvidas num empreendimento. Busque estabelecer processos periódicos para rever tudo o que foi realizado de positivo pela equipe, bem como levantando sugestões para melhorar ainda mais ações de resultados aquém do esperado.

Há riscos em se “desenvolver em excesso” alguma das habilidades empreendedoras?

No post de hoje, falamos mais a fundo sobre as duas últimas das dez principais habilidades empreendedoras abordadas em nossos textos, tratando sobre as habilidades do pilar de relação, fundamentais para se empreender com sucesso. Significa que terminam por aí? Não, pois seguimos estudando outras habilidades que têm surgido como essenciais para aumentar as chances de obter sucesso ao empreender!

Uma outra dúvida ainda não abordada que pode surgir é se alguma dessas habilidades, quando desenvolvida “em excesso”, pode prejudicar as chances de obter sucesso ao empreender. Trataremos disso em nosso próximo texto!

Para entender como desenvolver essas demais habilidades em seu cotidiano e seguir se tornando um(a) empreendedor(a) cada vez mais bem preparado(a) para os desafios do mundo dos negócios, continue acompanhando o nosso blog! E caso você queira desenvolver habilidades empreendedoras de maneira mais aplicada ao seu contexto, seja pessoalmente ou em sua equipe, por meio de um programa de inovação bem estruturado e sensível à estrutura atual de sua empresa, entre em contato conosco! Teremos um enorme prazer em colaborar com o desenvolvimento comportamental e mudança de cultura em sua empresa!

Por |2022-10-26T11:37:13-03:0026/10/2021|empreendedorismo|

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Sobre o Autor:

Graduado em Psicologia pela UFMG em 2020, tenho atuado desde 2015 na abordagem de Análise do Comportamento, encontrando na Psicologia Organizacional uma oportunidade de gerar um impacto ainda maior no mundo. Sou apaixonado por desenvolver pessoas, e desde 2020 venho desenvolvendo empreendedores junto à Troposlab, através de intervenções comportamentais que exploram ao máximo o potencial em inovação de cada empreendedor. E nas horas vagas, amo consumir cultura popular e viajar com os amigos!
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